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por Nereide Michel em 18/08/2020

Medo, insegurança, desinformação – são vários os motivos que levam uma mulher a se calar diante dos riscos que corre ao ser agredida pelo companheiro dentro de casa. Quaisquer que sejam os impeditivos para se buscar uma solução para o problema cabe a quem tem conhecimento da situação uma parcela de responsabilidade para evitar a continuidade da prática da violência doméstica – que em casos extremos pode causar ferimentos graves e até a morte da vítima.

Várias campanhas de conscientização direcionadas tanto às mulheres, que se encontram diante de uma grave ameaça à sua integridade física, como aos seus amigos, parentes e vizinhos, que podem soar o sinal de alerta para libertá-las de um relacionamento opressivo, já foram lançadas conquistando ampla adesão. Uma destas ações chama a atenção por ter origem em uma iniciativa envolvendo jovens curitibanos preocupados com as consequências geradas pela violência doméstica comprovando que a questão já está sensibilizando até as novas gerações. Os estudantes Paola Nogaroli, 17 anos, e Artur Cintra, 16 anos, colocaram em prática o projeto “Você nunca estará sozinha”, que a dupla criou para a disciplina de CAS (Criatividade, Atividade e Serviço) do Colégio Positivo – Internacional, motivada pelo aumento de casos de violência doméstica durante a pandemia. A ideia concretizada invadiu as redes sociais, os condomínios e estabelecimentos comerciais da capital paranaense.

Como destaca Paola Nogaroli, “o isolamento social intensificou a convivência entre familiares. O cenário de ansiedade, apreensão, incertezas e adversidades imposto pela pandemia, além do consumo excessivo de álcool nesse período, colaborou para o aumento da tensão dentro de casa – o que tem desencadeado um aumento de diversas formas de agressão”. Em abril, quando o isolamento social ganhou força para evitar a propagação do novo coronavírus, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. “O que mais preocupa não são os números gritantes de notificações, mas as pessoas que não conseguem denunciar”, explica Artur Cintra.

Por isso, o foco da campanha está na divulgação das formas de denúncia, sendo a principal delas o telefone 180. Um cartaz destaca o número e traz um QR Code que leva a uma landing page com informações completas sobre o assunto. A impactante imagem da arte, assinada pela estudante Mariana Taques, se espalhou pelas redes sociais, com mais de 3 milhões de pessoas impactadas. Além disso, os autores da ação contaram com o apoio de amigos e professores, que fixaram o cartaz em lugares públicos de grande circulação, como elevadores e estabelecimentos comerciais.

Por meio de uma parceria com a Outdoormídia, a campanha chegou às ruas de Curitiba. O cartaz pode ser visto em outdoors digitais e mobiliários urbanos espalhados pela cidade toda. A revista Ações Legais e os jornais O Morador e Opinião Curitiba também aderiram  à iniciativa dos estudantes e publicaram o cartaz nas últimas edições dos veículos. O mesmo ocorre com o supermercado Cidade Canção que o exibe na intranet e mural das suas 36 lojas localizadas em 16  cidades do interior do Paraná. “Temos vistos relatos de meninas e mulheres que estão sofrendo em isolamento com companheiros abusivos, vítimas de agressão física, abuso psicológico, emocional e sexual – e cabe a nós, enquanto sociedade, proteger essas mulheres”, mobiliza Paola.