Conecte-se

por Nereide Michel em 04/05/2022

” Deus é mulher”. Parece estranho ouvir essa definição de um artista para uma exposição de trabalhos seus. Estranheza que desaparece assim que se contempla obras que expressam através de tintas e traços a interioridade de entranhas, uma explosão que vem de dentro para fora, a geração, enfim, de novos seres trazidos à luz pelo autor no decorrer de 22 anos de intimidade do seu atelier. É assim que a mostra inédita “Lados Lados”, do artista paranaense André Mendes, dá um abraço envolvente nos seus visitantes, desde a abertura no dia 31 de março, na sala 11 do Museu Oscar Niemeyer. É uma arte que fala diferentes linguagens, unidas por um cordão umbilical que não as separa do ninho no qual foram concebidas. Desenho, pintura, escultura, instalações, painel e até uma criação listada como NFT – um mural que dialoga com a obra digital “Origin”, com acesso por meio de realidade aumentada, através de um filtro de Instagram. Todos têm a assinatura André Mendes.

Kraw Penas

No ancestralidade, a mensagem bruta e silenciosa dos menires; na contemporaneidade, a comunicação digitalizada transpõe a materialidade. André Mendes traduz esses dois tempos que convivem lado a lado na instalação “Origin”.

São muitas as vertentes que dão consistência ao trabalho de André Mendes, mas elas apenas reforçam a personalização de sua arte – não se afastam do ambiente criativo do seu autor. Como analisa Nei Vargas, curador da “Lados Lados” ,“a polivalência é uma das principais características da trajetória de André Mendes, que apresenta uma frequência que dissipa as noções mais elementares entre espaço e tempo, metafísico e material, real e imaginário”.

Na maioria das obras em exposição, “o feminino” foi intensificado para acentuar a “origem”, o “gerar”. A explosão do “nascer”.

Um interessante paralelo temporal é traçado por Juliana Vosnika, diretora-presidente do MON, ao se referir à exposição – 20 anos da inauguração do Museu do Olho e os 22 anos da trajetória de André Mendes. “A contemporaneidade do artista curitibano ganha espaço na instituição confirmando que ela está de portas abertas às mais diferentes manifestações artísticas. É um palco liberado à diversidade de inspirações e à versatilidade de formas para concretizá-las”.

A poucos passos da sala 11 da mostra “Lados Lados” impressiona a força figurativa das esculturas com berço africano enquanto os curitibanos ainda mantêm viva na retina a colorida e iluminada obra dos grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo. A mostra OSGEMEOS: Segredos” foi  uma das mais visitadas do Oscar Niemeyer: mesmo com as limitações impostas pela pandemia do Coronovírus mais de 140 mil pessoas circularam pela mostra nos 7 meses do seu período expositivo. Contraste de artes que caracteriza a curadoria do MON: a de André Mendes, plena de intimidades  – de dentro para fora – e a dos Gêmeos, que captam no ambiente externo – de fora para dentro – as imagens que compõem os seus grafites e intervenções.

CONTRASTES DO ARTISTA

André Mendes, por Antonio Wolff

Seja da pré-história ou de um futuro distante, a exposição “Lados Lados” de André Mendes fala sobre a vida e trata de uma ancestralidade atemporal. “Venho desenvolvendo essa pesquisa desde ‘Estado’ (2018) e ‘Lugar’ (2021), onde o diálogo entre pintura e escultura é escancarado”, diz. “Minha última transição foi da tinta acrílica para o óleo, que permitiu o acesso a um novo tipo de dimensionalidade. Chamo essa forma pura que saltou da tela de “menir”. Com um misto de paz e frieza, peso e leveza, ela se impõe em forma de ocupação de espaço com toda a sua ambiguidade harmônica.”

O artista, que já expôs em Portugal, França, Inglaterra, Tailândia e Malásia, diz que “Lados Lados” é carregada de sutilezas. “Imprimi um lado muito sensível nessa exposição”, comenta. “São anos de imersão em técnicas para chegar a este resultado. Trata-se de um trabalho no qual confiro atenção especial ao lado de dentro. É uma experiência imersiva que vai do piso ao teto, explorando a arquitetura do MON. Criei uma atmosfera por meio de uma gama de cores, que acolhe uma forma fluida, possivelmente do reino mineral, que transcende a compreensão do universo por sugerir uma certa alma.”

 A Galeria Zilda Fraletti é a representante das obras de André Mendes em todo o Brasil.

+ INFOS

www.museuoscarniemeyer.org.br