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por Nereide Michel em 11/02/2021

A presença do novo Coronavírus entre nós já completou um ano. E com poucas mudanças no cotidiano – que teve que se adaptar a situações impactantes, como evitar aglomeração e ficar em casa – para prevenir a propagação da pandemia. Diante deste cenário, os sagrados desfiles de cada temporada, religiosamente aguardados, precisaram encontrar uma nova passarela – distante da plateia física mas presente na intimidade do consumidor que não arrefeceu o seu desejo por novidade. As apresentações virtuais assumiram o calendário de lançamentos nas semanas internacionais e nacionais de moda e ao adotarem os avançados recursos tecnológicos, à disposição de diretores criativos e produtores, passarelas se transformaram em telas cinematográficas refletoras do que se passa no mundo ao redor.

Como é impossível apartar-se das interferências emanadas por um ambiente carregado de incertezas e inseguranças, embora respirando esperança, coleções com assinaturas de talentosos estilistas e designers, têm origem em tais sentimentos e anseios. Elas vestem homens e mulheres para compartilhar de emoções e atitudes geradas nas premências da realidade. Aliás, este é o papel da moda – hoje e sempre!

Ermenegildo Zegna/ Inverno 21/22

Os desfiles de Ermenegildo Zegna e Fendi, que marcaram a temporada de lançamento do Inverno 21/22 das coleções masculinas em uma das escalas obrigatórias do circuito internacional – Milão – exemplificam a moda que está nascendo nos ateliers embutindo uma alta dose de adaptabilidade. Sua missão: atender às expectativas de quem foi obrigado a mudar a rota habitual entre a casa e o trabalho e trocar a agenda transbordante de compromissos por uma rotina limitada pelos metros quadrados do seu endereço residencial. O resultado: portas abertas para a moda que desconhece barreiras físicas na hora de vestir o homem e suas expectativas atuais.

HOMEM ADAPTADO

O afastamento da formalidade absoluta nas coleções de Ermenegildo Zegna não é de hoje. Mas ela se acentuou nas últimas coleções justamente pela necessidade de se viver o momento atual que pede, segundo sua proposta, “um salto para a frente e para fora que é também uma inclinação para dentro, acabando com as barreiras, separações e distinções que existiam antes.” Uma consequência desta tomada de posicionamento  é a ativação de um “movimento fluído que mistura o público e o privado, o espaço pessoal e o espaço público”.

Não raras vezes o descanso, a vida e o trabalho colidem apresentando novas possibilidades de estilo, na visão da marca, que tem Alessandro Sartori como diretor artístico. Um estilo que ignora o anteriormente consagrado distanciamento entre padrões de vestimenta porta adentro e porta fora  Não por acaso, o desfile online de Zegna mostrou o dinamismo masculino outdoor em escadarias, corredores e caminhos encontrados em arrojados conjuntos arquitetônicos contrastando com a recepção acolhedora da vida indoor – com atividades triviais e nostálgicas como assistir televisão, atender a um telefone analógico, relaxar com os amigos.

No Inverno 21/22 de Ermenegildo Zegna as formas são fluídas, confortáveis e adaptáveis. O estilo “fique em casa” exemplificado por robe de chambre, calça de treino ou um tricô folgadão remodelam a formalidade. O terno reimaginado ajusta-se ao jeito de ser de cada um.

HOMEM OTIMISTA

O Outono/Inverno 21/22 da Fendi, nascido dos esboços de Silvia Venturini, procurou uma saída otimista para a “normalidade” gerada por necessidades pandêmicas. O cenário do desfile virtual da marca foi um espetáculo de luzes e cores dirigido pelo artista italiano Nico Vascellari. Sem necessariamente ser escapista – uma vez que as indagações estavam costuradas nos looks apresentados com proposta multiuso e arremates “roubados” de peças caseiras transferidos ao streetwear.

O conceito de trazer o interior para fora e o exterior para dentro não se perdeu no impactante cenário espelhado de 360º imersivo onde os modelos eram infinitamente multiplicados ao som instigante da faixa exclusiva da dance pop, composta por Not Waving, que não deixava esquecer  o que é pulsante hoje,” What is Normal Today ft. Silvia”. Daí na coleção a multifuncionalidade e forma unirem-se em silhuetas  workwear reversíveis e outerwear descontraído. Afinal, quem tem certeza de quando o “novo normal” vai voltar a ser apenas “normal”?

Interior para fora e exterior para dentro na coleção da Fendi. Bainhas de pijamas agasalhadas, jaquetas e bermudas confortáveis, alfaiataria desconstruída que expõem forros acolchoados com o logotipo FF. A simbiose entre o que se usa em casa com o que sai para a rua evidencia-se em roupas, e seus acessórios, expressando o espírito dos tempos atuais.

Uma paleta forte e bloqueada: esmeralda. vermelho, açafrão, laranja, fúcsia, cobalto para lembrar da liberdade de um mundo pleno de cores e luzes.