por Nereide Michel em 25/06/2020
A música é parceira dos eventos mais importantes da nossa vida. Também é nossa confidente quando precisamos ficar quietinhos no nosso canto. Da alegria entre amigos a um momento solitário sempre há uma trilha sonora para nos fazer companhia. E o que dizer quando o isolamento social torna-se imprescindível para evitar a propagação de um inimigo comum – novo coronavírus? A sua presença ganha ainda mais importância para “animar a tropa” – evitar que o estresse e o desânimo tomem conta em uma fase em que o “fique em casa” é primordial para que logo, logo, celebrações possam acontecer porta afora.
Lives de artistas como Marília Mendonça e Alok alcançaram uma plateia de mais de 1,5 milhão de participantes. O que comprova que a música continua no centro de interesse do público independente de onde e em que circunstância aconteça uma apresentação ou concerto.
Segundo o produtor musical e professor de Música do Colégio Positivo – Internacional, Leandro Ramos, a quarentena também pode servir como inspiração para composições que ficarão para a história, marcando a situação ímpar pelo qual a humanidade está passando. De acordo com ele, várias canções que mudaram o mundo foram escritas em horas de dificuldade extrema, e realmente mudaram a maneira como a gente vê a música e o seu papel transformador. “Acho que no final dessa quarentena poderemos ter composições muito mais profundas e que representarão o momento pelo qual estamos passando,” complementa.
Exemplificando esta sua análise, o professor Leandro Ramos organizou, e compartilhou com os seus alunos, uma lista de seis músicas que, segundo ele, “mudaram o mundo após períodos de sofrimento ou dificuldades.”
Harold Arlen – Over the rainbow
Composta em 1939 – faz parte da trilha sonora de “O mágico de Oz”- a música ganhou maior dimensão quando foi cantada pela atriz Judy Garland, que interpretou Dorothy, no filme dirigido por Victor Fleming, especialmente para as tropas americanas, durante a Segunda Guerra Mundial. A apresentação foi gravada e enviada posteriormente para os soldados para que estes resgatassem a esperança em dias melhores. A música se transformou em referência para se superar momentos de muita dificuldade ao lembrar de “um lugar onde pássaros voam, acima do arco íris”.
John Lennon – Imagine
A canção de John Lennon foi lançada em 1971 em meio a um crescente desenvolvimento militar dos EUA e da URSS por conta da Guerra Fria. Ela retrata um mundo onde não existem raças, povos ou nações diferentes, no qual todos podem viver em paz. Além de representar o momento, Imagine se tornou um hino de protesto e clamor pela paz, tornando-se atemporal.
Geraldo Vandré – Pra não dizer que não falei das flores
A letra icônica de Geraldo Vandré, escrita em 1968, foi um grito de resistência durante a ditadura militar brasileira. A música ganhou maior expressão durante o Festival Internacional da Canção, quando ficou em segundo lugar no concurso. Por conta da adesão da canção aos protestos de rua e pela força canalizadora das manifestações populares contra a opressão, Geraldo Vandré buscou asilo no Chile. Até hoje, a música acompanha movimentos na luta contra a repressão e a violência.
Bob Dylan – The times they are a-changin’
Lançada em 1964, a música de Bob Dylan é um retrato da mudança de tempos e avanços tecnológicos, políticos e sociais. A canção foi considerada um hino dos direitos humanos pelo mundo afora e virou uma forma de resistência e apelo à paz ante as guerras que estavam acontecendo quando foi composta. Lembrando que neste período de isolamento social, Bob Dylan disponibilizou seu primeiro álbum de estúdio em 8 anos – “Rough and Rowdy” – no último dia 19 de junho.
Pink Floyd – Another Brick In the Wall
Lançada em 1979, o clássico que pede aos professores para deixarem as crianças em paz marcou época no Reino Unido. A canção composta por Roger Waters é um apelo pela mudança do sistema de ensino do país, que na época era extremamente opressor e não desenvolvia nenhum tipo de pensamento crítico ou valores éticos nos alunos. A música ainda hoje soa como forma de protesto em lutas contra a opressão em diversas partes do mundo.
Tupac – Changes
A canção Changes, de um dos nomes mais importantes da história do rap, foi gravada em 1992, porém só foi lançada em 1998. Em parceria com o músico Talent, Tupac compôs a música como forma de protesto contra a violência policial, racismo e as dificuldades de ser um negro da periferia norte-americana. A canção, mesmo escrita cerca de duas décadas atrás, segue atual e representa movimentos anti-racistas e contra a violência policial que ocorrem pelo mundo, ainda em 2020.