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por Nereide Michel em 14/06/2022

Completar 80 anos tem um significado especial mas a data pode ser mais especial ainda quando a maior parte de uma existência foi vivida sob a ótica da sensibilidade e da criatividade Juarez Machado, que comemorou 8 décadas em 2021, testemunha com o seu trabalho, diversificado em temática, inspiração e cenário, uma celebração pautada na simbiose entre a vida e a arte. Não por acaso a exposição, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, que reúne 166 obras do artista em diversos suportes – pintura, desenhos, fotos, escultura e instalação -,  ganhou o denunciante título  “Juarez Machado – Volta ao Mundo em 80 anos”.

Dicvo Kremer

Catarinense de Joinville, onde se percebeu artista, educou-se na arte na paranaense Curitiba, seu destino no início dos anos 1960 para estudar na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Uma dupla “procedência” carimbada, com orgulho, no passaporte de Juarez Machado exibido nas várias escalas que marcaram a sua trajetória profissional. Da cidade da Rua das Flores à Cidade Luz, onde se fixou em 1986, fez parada na Cidade Maravilhosa onde, quem diria, virou artista global com os intrigantes desenhos que esboçava, acompanhados de mímica, no Fantástico. No Rio de Janeiro não economizou no talento que fluiu nas mais diferentes vertentes: ilustração, cenografia para televisão e teatro, figurino, escultura e cartoon. O cenário televisivo, aliás, não lhe era estranho, antes da Globo já havia participado como ator em um dos grandes sucessos entre os telespectadores curitibanos. No horário nobre do antigo Canal 6 ele interpretou o filho do Dr. Pomposo Ribeiro, um político populista, protagonizado por Ary Fontoura, e que tinha no elenco outra glória da ribalta curitibana, Odelair Rodrigues. 

De sua vivência curitibana de 1961 e 1964, a  exposição comemorativa mostra um pouco do seu cotidiano de estudante longe de casa – desenhos feitos com graxa de sapato  na Rua XV de Novembro quando  não dispunha de recursos para comprar tintas. Em contraponto, acumulou a riqueza de amizades com nomes influentes no cenário artístico da cidade como Fernando Velloso, João Osorio Brzezinski, Fernando Calderari e Domício Pedroso.

“Diretas Já”/1984

Os 166 trabalhos de Juarez Machado, que ocupam a sala 3 do Museu Oscar Niemeyer, compõem uma diversificada coletânea com curadoria de Edson Busch Machado, irmão do artista, que abrange desde o início da carreira do pintor na capital paranaense, passando pelos seus períodos no Rio de Janeiro até sua fase internacional.

“Lembranças do Pino de Tom Jobim”/ 1994

“Lúdica e poética como tudo o que Juarez Machado produz, a mostra percorre com interatividade diferentes décadas, estilos, localidades, materiais, técnicas, mídias e vertentes artísticas”, afirma a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer (MON), Juliana Vosnika. “Artista com obra no acervo, ele escreve agora o seu nome definitivamente na história do MON, num importante momento em que completa 20 anos e se consolida entre os principais museus da América Latina”, comenta.

Já Edson Busch Machado destaca a presença de Juarez no cenário internacional, além dos prêmios recebidos, a sua influência se fez notar na obra de outros artistas como o diretor francês de cinema Jean-Pierre Jeunet, que se inspirou no inconfundível universo de cores do pintor para criar o visual do famoso filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001). O diretor conheceu o artista no início dos anos 2000, comprou seus quadros e estudou o seu estilo. 

Também tiveram a assinatura de Juarez Machado capas de livros e discos e projetos de design e arquitetura ao lado de nomes como Sergio Rodrigues e o próprio Oscar Niemeyer. Algumas das mais de 200 capas de discos e livros criadas pelo artista podem ser vistas na vitrine de artes gráficas da mostra e integram  a retrospectiva da vida e obra de Juarez, juntamente com um painel de fotografias e informações biográficas. 

“Verão em Deauville”/ 1999

Outro símbolo emblemático na carreira do artista é a bicicleta – tanto que ela ganhou espaço privilegiado na concepção da mostra. A ideia é que o público percorra a exposição como se estivesse fazendo um passeio a bordo do veículo, que é também tema do vídeo que arremata o trajeto cultural do visitante. “Juarez mescla a bicicleta, um elemento da infância em sua cidade natal, com a descoberta da figura humana, seja no estudo da anatomia na Belas Artes ou das belas mulheres que ele tão bem retrata em suas pinturas. E, a partir desses dois elementos, a curadoria parte para suas demais obras. É uma viagem de bicicleta que percorre esses 80 anos e relembra todos esses elementos — os ateliês, as paisagens, as mulheres”, explica Busch. 

+ INFOS

 “JUAREZ MACHADO – VOLTA AO MUNDO EM 80 ANOS”

Museu Oscar Niemeyer

Sala 3 

Rua Marechal Hermes, 999

Fone: (41) 3350-4400

De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até 18h)

R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Toda quarta-feira, entrada gratuita

Até 18 de setembro de 2022

www.museuoscarniemeyer.org.br