por Nereide Michel em 30/08/2022
Intervenções artísticas no cenário urbano têm um alcance muito maior do que embelezar uma cidade. Elas assumem também o papel de sensibilizar para manifestações criativas um público de olhar descuidado por, quem sabe, nunca ter visitado um museu ou uma galeria. Curitiba é generosa com as suas telas a céu aberto, assinadas por artistas conceituados, prontas para ativar a emoção de um público-circulante, muitas vezes, com passos apressados, mas que dificilmente vai deixar de desfrutar de alguns minutos de prazer que apenas a arte pode proporcionar.
A avenida Água Verde é o cenário para uma homenagem do Santander Brasil a ícones da arquitetura curitibana contemporânea – reverencia um período em que Curitiba começou a ganhar destaque nacional e internacional com o seu urbanismo e ações de mobilidade urbana, sob o olhar do prefeito Jaime Lerner e sua equipe do IPPUC. O Jardim Botânico, a Ópera de Arame, a Torre Panorâmica e a bailarina, que figura em uma das bases do Museu Oscar Niemayer, fazem parte de um grande painel instalado na fachada da agência Select, na capital paranaense.
A ilustração, feita pelo arquiteto paulista Sérgio Terahata, valoriza o patrimônio arquitetônico e o talento dos paranaenses em transformar edificações em elementos de grande valor cultural reforçando a identidade local para além das fronteiras estaduais. Como esclarece Marilize Ferrazza, diretora da Rede Paraná do Santander Brasil, “trazer em nossa fachada ícones da arquitetura curitibana é uma forma de homenagear a cidade e de demonstrar nossa identificação com a cultura local.”
O grande acontecimento cultural deste ano, sem dúvida, foi o centenário da Semana de Arte Moderna de 22, que chegou ao seu centenário no dia 13 de fevereiro. E desde então, quem passa pela Alameda Carlos de Carvalho, no Batel, sente o impacto do mural urbano de proporções gigantescas, com cerca de 10 metros de altura, do artista piauiense Hudson Melo. Uma criação para comemorar com arte o evento, que não poderia ter espaço mais apropriado – ocupa toda uma fachada lateral da Artestil Galeria de Arte. No currículo do artista estão mostras individuais e coletivas nas principais capitais brasileiras em mostras individuais e coletivas, além da produção de um totem em frente ao Marta Herford, em Bielefeldt, eleito o melhor museu da Europa em 2013, e grafites em Colônia e Berlim.
A fachada do Shopping Estação transformou-se em um mural de arte urbana com 520 metros quadrados – uma homenagem aos moradores e turistas que veio à luz no dia em que Curitiba comemorou os seus 329 anos. A obra, com imagens que representam as atrações da cidade, como o Jardim Botânico e as capivaras, é assinada pelo ilustrador e artista urbano Michael Devis, nascido na capital paranaense. Neste trabalho ele contou também um pouco da história da estação ferroviária – que funcionava no local – e do shopping, sua atual ocupação. O artista, que tem sua arte espalhada por 17 países e 24 Estados brasileiros, já participou de diversos festivais e projetos culturais com pinturas em Miami, Tóquio e Amsterdã.
Antes dos murais urbanos os outdoors, ocupando espaços privilegiados nas áreas centrais das cidades, ao exibirem suas mensagens publicitárias – algumas com muita criatividade – atraíam a curiosidade dos passantes. A curitibana Favretto Painéis, que surgiu em 1977, é testemunha da evolução desse meio de comunicação e está ciente também do seu papel contemporâneo como difusor de cultura. Tanto que lançou o projeto Arte na Cidade, uma iniciativa pioneira que oferece a artistas visuais locais a oportunidade de exporem algumas de suas obras em painéis e em outros de seus espaços de divulgação.
Conforme esclarece Janete Favretto, diretora da empresa, “os painéis são itinerantes e tem dado à paisagem da cidade um tom autoral e repleto de criatividade. O projeto tem o objetivo de reconhecer e fortalecer a arte de quem é daqui aproximando as obras dos curitibanos durante a transição dos nossos anunciantes. ” A curadoria do projeto é do artista curitibano André Brik, que já selecionou criações de doze artistas curitibanos, que tiveram suas obras exibidas em um dos mais de 50 espaços destinados à divulgação de artes visuais em diferentes pontos de Curitiba.
Além de muros e paredes outro meio bastante utilizado para a exibição de trabalhos artísticos é o prosaico tapume. Sua função prática – delimitar o perímetro de um edifício em construção – ganha uma parceria estética, que embeleza e valoriza o local da obra. Um lançamento da GT Building, no Champagnat, por exemplo, virou atrativo do bairro com seus painéis decorativos, luzes especiais, texturas e um paisagismo com espécies nativas. Estruturado como um storytelling – que inicia com o deserto e passa pelas etapas de transformação até chegar a um verdadeiro oásis – difunde uma mensagem de forte apelo ecológico. Além de contribuir com o cenário urbano a ideia é incentivar boas práticas e despertar bons sentimentos em que passa pela intervenção, conforme esclarece João Alfredo Thomé, diretor da incorporadora.
O painel urbano, e não um simples tapume, impacta positivamente uma vez que a ideia é acolher, sensibilizar e gerar interações com a comunidade. “É uma intervenção saudável e sustentável, pois se utiliza o espaço de maneira mais humanizada”, segundo atesta Richard Viana, arquiteto e fundador da Urbideias, empresa especializada em projetos com esta finalidade.