Linkultura

por Nereide Michel em 17/09/2025

Obras de autores paranaenses ganham destaque entre os lançamentos nesse segundo semestre. Chamam a atenção pela diversidade de temas abordados que conquistam leitores nos mais variados focos de interesse. Ficção e realidade são contempladas de igual maneira comprovando a versatilidade da escrita dos nossos literatos. Enquanto uma análise crítica da atuação do MinC nos seus 40 anos é oportunidade para desvendar acertos e erros de suas políticas voltadas à área cultural. 

Manoel Carlos Karam, um dos personagens mais atuantes e “incomodativos” do cenário cultural curitibano – do qual se despediu precocemente em 2007 –  continua a existir no cotidiano da cidade através do diversificado alcance de suas obras. Escritor, jornalista e dramaturgo, natural de Rio do Sul, em Santa Catarina, chegou em Curitiba em 1966 para estudar Jornalismo na PUC/PR. No seu currículo estão 20 peças de teatro encenadas na década de 1970. A partir dos anos 1980, passou a se dedicar à literatura e em 1995 venceu o Prêmio Cruz e Souza de Literatura, com  “Cebola”.  Catorze livros têm a sua assinatura com personagens e enredos inquietantes.

Durante os anos de 2006 e 2007, Karam postava semanalmente um texto no Blog do Zé Beto e o apresentava na Rádio BandNews FM Curitiba toda segunda e terça-feira. Os textos se chamavam “Crônicas de Alhures do Sul”; uma cidade fictícia inventada e contada pelo autor. A boa notícia é que este conteúdo foi reunido pelo seu filho Bruno em uma obra recheada com 30 narrativas que relatam fatos do cotidiano de maneira concisa e com bom-humor, que são características do escritor. O livro foi lançado no dia 6 de setembro na Livraria Arte & Letra. 

A união de pai e filho resultou numa preciosa viagem íntima e literária pela trajetória de um dos grandes cronistas brasileiros. Uma sintonia com os tempos digitalizados dos dias de hoje tem a participação decisiva de Bruno – assim, além de ler, é possível ouvir através de uma mescla de vozes de progenitor e herdeiro, o olhar crítico do autor e curiosidades biográficas. Os episódios estão disponíveis gratuitamente em podcasts no YouTube e no Spotify

Além dos 30 podcasts e do livro, o projeto cultural inclui a realização de 5 oficinas de formação voltadas a professores e mediadores, 30 rodas de leitura para jovens e adultos – que vão acontecer nas Casas da Leitura Miguel de Cervantes e Vladimir Kozak, com público agendado de escolas públicas de Curitiba.

O projeto cultural intitulado “Crônicas de Alhures do Sul” é realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba e tem o apoio do Colégio Positivo e Universidade Positivo.

O escritor e ex-vice-prefeito de Foz do Iguaçu, Nilton Bobato, é o autor de “É proibido falar mal de Deus: prosa quase distópica”, obra que vai ser lançada em Curitiba, no dia 04 de outubro, na Livraria Telaranha. Contos, que misturam ficção e realidade para tratar de temas como política, religião, direitos humanos e relações sociais, formam o conteúdo do livro, editado pela Artéra, selo do grupo Appris.

Um Brasil tomado por grupos paramilitares, um professor que tenta provar a inexistência de Deus e um Conselho Celestial com Cristo, Maomé, Buda, Oxalá e até o demônio para decidir o destino da humanidade. Cenário e protagonistas de três séries de contos, que misturam ficção e fatos inspirados na realidade, abordando temas como política, religião, direitos humanos e relações afetivas, em um tom que o autor classifica como antifascista, antirracista e antihomofóbico. A estética literária da obra chama atenção. Cada bloco de contos é introduzido por um decreto fictício, inspirado nos ataques de 8 de janeiro de 2023, que cria um efeito contínuo de tensão narrativa. Os diálogos mesclam as vozes do narrador e dos personagens, sem travessões ou aspas, desafiando o leitor a identificar quem fala. 

O livro conta com prefácio do romancista e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Miguel Sanches Neto; apresentação de Joane Vilela, doutora em Educação pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp); e segunda orelha assinada pelo premiado escritor português José Luís Peixoto.

Nilton Bobato é professor de Língua Portuguesa, mestrando em Literatura Comparada pela Universidade Federal de da Integração Latino-Americana (Unila), jornalista e  mantém forte atuação na cena literária paranaense com oito livros publicados. Em Foz de Iguaçu foi vice-prefeito, vereador e secretário municipal das pastas de saúde, administração e governança. 

“Tem coisa mais importante que o vestibular?” pergunta e título do livro do paranaense Marco Casagrande, editado pela Ipê das Letras, que traz uma proposta concreta e corajosa de educação conectada à vida real.  Enquanto a sociedade valoriza criatividade, coragem, colaboração e solução de problemas, ainda preparamos nossos jovens para decorar fórmulas e passar em provas. Mas e se estivermos deixando-os despreparados justamente para o que mais importa? Questionamentos não faltam nas páginas da obra.

Com base na Psicologia Comportamental, em experiências no Vale do Silício e no ensino de universidades como Harvard e Stanford, o autor propõe um modelo educacional que desenvolve protagonismo, autonomia emocional e habilidades humanas — da comunicação à empatia, da resiliência à liderança.  Ao longo de capítulos diretos e impactantes, Casagrande convida educadores, famílias e gestores escolares a refletirem sobre o que significa preparar jovens para o mundo atual — um mundo que exige atitude, senso de propósito e capacidade de ação.

Inspirado por experiências internacionais e práticas do mundo corporativo, o autor propõe uma educação mais humana, aplicada e transformadora. O livro oferece reflexões acessíveis e embasadas para todos que desejam contribuir com um futuro mais consciente — dentro e fora da sala de aula.

A segunda edição do livro digital sobre os 40 anos do MinC foi lançada, em Curitiba, no dia 10 de setembro, pelo Observatório da Cultura do Brasil (OCB), no Café e Livraria Arte & Letra.  A nova versão (3.1), que substitui a anterior (3.0) traz mais de 1.100 páginas de pesquisa crítica e aprofundada sobre os 40 anos de existência do Ministério da Cultura, revelando falhas estruturais e ineficiências que atravessam diferentes governos, em um estudo de interesse público em defesa de movimentos sociais.

Fruto de um trabalho coletivo de pesquisadores, juristas, jornalistas e acadêmicos ligados ao OCB, o estudo baseia-se em 35 processos de auditoria, quase 40 representações de congressistas e cerca de 300 reportagens. O documento aponta problemas sensíveis de gestão que se repetem ao longo do tempo, como um passivo de projetos da Lei Rouanet sem prestação de contas, contratos de TI ineficientes, sistemas defasados ainda em papel e a dificuldade crônica de implementar o Plano Nacional de Cultura.

Devido a demanda coletiva das informações, a rede de pesquisadores do OCB decidiu tornar o livro público e gratuito, disponível no site www.observatoriodacultura.com.br. O material também é acompanhado de quase mil documentos anexos, liberados para consulta pública: https://linktr.ee/Minc40anosRelatorio