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por Nereide Michel em 05/03/2013

Compacto Duplo, com este instigante batismo – e qual temática da Heroína não causa “aprofundamentos” além da roupa? – ,  o curitibano Alexandre Linhares deu o arremate final à 22ª coleção do seu currículo. Não necessariamente seus lançamentos pisam passarela de grandes eventos de moda. Eles seguem um ritmo próprio que, na verdade, tem a ver com a sintonia de tempo e espaço do estilista. A arte vestível da Heroína ganhou, desta vez,  apresentação intimista numa simpática casa de chá, The Kettle, vizinha do seu atelier, na Prudente de Morais. Datada para a  última segunda-feira de fevereiro de 2013, teve trilha sonora exclusiva composta por Alexandre Linhares e produzida  por Jô Marçal.

 Representante da moda autoral, Alexandre Linhares concebe cada coleção com a mesma intimidade que um artista tem com a sua obra. Musas dele são suas clientes. Elas sabem que vestem mais do que uma roupa com a etiqueta Heroína. Reconhecem-se como personagens de uma história, assumidos cada vez que botam por cima do corpo  uma peça assinada por Alexandre Linhares. E a história que faz girar, em qualquer rotação, a coleção Compacto Duplo? Vamos deixar o autor  revelá-la não poucas palavras. Se ele tem fluência nas agulhas e fios, não seria diferente ao contar os caminhos seguidos por sua costura  até se fazer roupa e ser capturada, pela força do desejo, por uma de suas musas. (Nereide Michel)

Alexandre Linhares diz:

Eu tenho uma amiga que eu amo e admiro muito como artista, a Jô Marçal. A Jô me emprestou sua voz em “deus”, na trilha sonora do desfile de mesmo nome, da Heroína – Alexandre Linhares no Paraná Business Collection em 011, e antes disso ela cantou a música “sim,sim,sim” no vídeo desta coleção, em 009.

Iniciei este ano de 013 completamente ligado ao movimento tropicalista e me apaixonei pela Gal Costa. Vi uma apresentação do Chico no Festival de 67 e neste momento eu desejei ver a Jô Marçal num palco como aquele, naquela atmosfera. Assisti ainda a gravação de “Divino, Maravilhoso” e nesse entremeio escrevi para a Jô pedindo – implorando – para lhe produzir um espetáculo. Em princípio ela relutou. Não satisfeito, convidei a Jô para ser a Estrela de “Compacto Duplo”.

“Compacto Duplo” conta a história de uma cantora que recebe uma música para gravar, tendo o vídeo da coleção como o videoclipe desta música. A Jô interpreta “ela mesma” no videoclipe enquanto eu me arrisco como produtor e diretor, seguro na parte que me cabe – o ofício que me compete: o vestir estrelas.

Em toda coleção eu elejo uma Estrela. Ser Estrela é a maior honraria que oferecemos na casa de moda Heroína – Alexandre Linhares. A Estrela é a embaixadora da Heroína, ela se personifica Heroína e nos empresta seu rosto, se alia à nossa alma.

A estrela precisa ser uma pessoa que eu ame. Preciso confiar nela e ela precisa acreditar em mim. Tem que ser uma pessoa de verdade e várias mulheres já ocuparam este posto. A estrela desta coleção é a Jô Marçal.

Todas as estrelas são a minha estrela, todas as senhoras são a minha senhora. Todas elas são eu e eu existo em todas elas.

Escrevi a música, à qual presenteio a estrela, contando a minha relação com a estrela, a estrela que à noite brilha pra ele. Ser estrela é brilhar pra “ele”, é ela quem guia o nosso caminho.

A estrela é aquela que mesmo de dia, quando ele quiser voltar pra casa, é ela quem lhe acompanhará em todo o trajeto. Se ele for embora, ela também lhe guiará num caminho seguro.

No lado lúdico do trajeto, ela leva com ela as histórias e lágrimas dele, e pode se findar em anã-branca – decorando então um jardim.

Iconicamente, me cantam nesta coleção passarinhos. O artesanal e manual está presente. É tudo pintado à mão, é tudo bordado à mão, é tudo entalhado à mão, esculpido à mão. É manual, é verdadeiro. É honesto. É verdadeiro e é honesto.

Assim que é Heroína.

Bárbara Fingerle Ramina (proprietária da The Kettle)   já personificou a estrela/voz em “Querido Franz,”, Heroína –Alexandre Linhares, 011. Risadas depois, numa conversa informal, surgiu a vontade de se fazer uma ação de arte na sua acolhedora  casa de chá. E nasceu a performance ao vivo de “compacto duplo”.

Bárbara Fingerle Ramina, Jô Marçal, Thifany F. e Alexandre Linhares: personagens do Compacto Duplo.