por Nereide Michel em 08/07/2013
Não por acaso, Mario Queiroz é sinônimo de moda masculina no Brasil. Sua trajetória não foi diferente de tantas outras percorridas por profissionais do país. Mas o público que escolheu não foi dos mais fáceis a ser conquistado – a maioria dos homens de duas décadas atrás estava condicionada a se vestir conforme padrões clássicos (rígidos?) de elegância. Poucos ousavam cruzar a linha para ver o que havia do outro lado da margem. Mas foram justamente estes poucos que interessaram ao estilista, pois, sabia que eles fariam a diferença num futuro bem próximo. Mario Queiroz começou a mostrar coleções descontraídas, despojadas no streetwear – muitas peças causavam uma certeza estranheza – em desfiles solos. Participou do badalado Mercado Mundo Mix e sua feira itinerante e foi convidado para mostrar a sua moda em eventos com grande potencial de divulgação: Phytoervas Fashion, Semana de Moda Casa de Criadores e MorumbiFashion Brasil, que depois se transformaria em São Paulo Fashion Week. Seu trabalho evoluiu nas temporadas de lançamento que se sucederam o que, na verdade, sempre fez parte da responsabilidade assumida pelo estilista perante o mercado. Dele também é o mérito de dar uma “repaginada” no guarda-roupa masculino do brasileiro acrescentando-lhe principalmente a “liberdade de escolher o que vestir e como vestir”, sem se preocupar com o que “vão dizer por aí”. A mudança de perfil do consumidor do seu segmento veio acompanhada de um novo comportamento adotado por ele para acompanhar expectativas pessoais e profissionais geradas por uma sociedade menos repressiva, graças às conquistas femininas. Por acompanhar de perto toda esta movimentação, Mario Queiroz adquiriu conhecimento e experiência para assinar o livro “O Herói Desmascarado – A Imagem do Homem na Moda (Editora Estação das Letras e Cores).
E qual é o posicionamento atual do estilista? Mario Queiroz de certa maneira retorna às suas origens, a da apresentação solo, depois de várias temporadas de São Paulo Fashion Week. Sua opção tem a ver com a necessidade de voltar a ter um contato mais próximo com o seu público, de lhe oferecer um desfile mais intimista, longe da agitação de uma grande sala de desfile. Os patrocinadores da marca também ganham mais destaque em um evento que prioriza seus produtos. Em agosto de 2012, Mario Queiroz desfilou sua coleção na Pinacoteca, em São Paulo, dentro deste novo formato. Outro desafio que aceitou de bom grado foi o de fugir do eixo São Paulo/Rio para lançar uma coleção. Em abril de 2013, seus looks masculinos e femininos Verão 2014 foram vistos pela primeira vez em Fortaleza, na Semana de Moda Dragão Fashion.
Looks femininos? Sim, há algumas estações o estilista incorporou com toda naturalidade uma linha para elas em suas coleções. Sem perder de foco a alfaiataria do seu universo masculino. Afinal, hoje mais do que nunca, mulheres e homens se igualam em competência nas mais diversas atividades e intercambiam, conforme desejos ou exigências, a praticidade e o charme do guarda-roupa um do outro.
Ao fugir dos lançamentos massificadores de cada temporada, Mario Queiroz se sente à vontade para trabalhar fora do circuito globalizado das estações. E coloca em prática um dos principais mandamentos do “vestir contemporâneo”, aquele ditado pela sustentabilidade. Desperdício mínimo de materiais é a norma em seu atelier. Uma calça, uma blusa ou um blazer recém-saído de suas máquinas podem incluir um tecido, um aviamento ou um bordado que já entraram no feitio de roupas de estações anteriores. Nada mais atual!
DRAGÃO QUE VEM DO MAR
Ao lançar uma coleção inédita fora de São Paulo, em Fortaleza, Mario Queiroz inspirou-se apropriadamente no Dragão do Mar, centro cultural da capital cearense, que batiza o evento Dragão Fashion. Criou três momentos diferentes no desfile – as praias, os navegadores e os piratas – mantendo unidade com a proposta do seu estilo mesmo nos looks mais leves e descontraídos, aqueles com “cara de verão”. O seu street-chic, com base no guarda-roupa do homem, está presente em opções masculinas e femininas, com destaque para a alfaiataria em bases naturais, como o algodão e o linho, que aparecem em diversos aspectos trabalhados com alta tecnologia. A sensualidade da estação mais quente do ano se insinua em decotes V nos tops e nos transpasses, que deixam pele à mostra. Uma surpresa: a linha beachwear feminina do designer, que ganha estamparia exclusiva, com assinatura do pintor Marco Aurélio Rey, cujas obras foram impressas em tecidos para representar a praia e o fogo. (Nereide Michel)