Conecte-se

por Nereide Michel em 02/12/2013

 Assim que uma coleção se delineia, o estilista já leva em conta que dela depende não apenas a sua inspiração – seja ela autoral ou seguidora de tendências  – mas de toda uma engrenagem que movimenta setores  de pequenas e grandes indústrias e comporta também atividades paralelas representadas pela mão-de-obra informal ou de artesãos. Até uma roupa ou acessório chegar às vitrines, para disputar a atenção de um consumidor cada vez mais exigente, botões, zíperes, fios, agulhas, tecidos –  cor lisa ou estampada, algodão ou seda, sintético ou natural? Ah, que difícil decisão – são incluídos em um rigoroso cronograma. Se faltar uma renda, lá se vai o conceito da temporada. E se as bordadeiras não forem contratadas com antecedência e se o fornecedor  da principal matéria-prima não for procurado a tempo para lhe garantir metros e metros daquela  padroganagem exclusiva? Só quem vive e convive nos estressantes bastidores da criação e desenvolvimento de uma coleção sabe que todos os elos da engrenagem da moda devem estar azeitados e funcionando perfeitamente para que o mercado, como um todo, se beneficie das novidades apresentadas a cada  estação.

Não por acaso, a 13ª edição do Minas Trend, evento que abriu oficialmente o calendário de lançamentos para o Inverno 2014, de  8 a 11 de outubro, no Expominas, em Belo Horizonte, destacou na sua ambientação a simbiose que deve existir entre a indústria e a criação; entre o produto e a inspiração. Uma concepção ampliada ao mostrar que não só os elementos e personagens ligados diretamente ao universo da moda podem – e devem – ser inseridos  no ritmo dinâmico, fabril e febril da confecção.  Um exemplo? O que o sorvete tem a ver com a moda? Este foi o desafio aceito, e muito bem esclarecido, por um dos coletivos  instalados na área de convivência do Minas Trend, o que reuniu a designer de moda Mary Arantes, o designer gráfico e ilustrador, Gabriel Figueiredo, o videomaker Fred Duarte,  o arquiteto Alexandre Rousset e as chefs Karen Piroli e Agnes Farkasvölgyi.  “Sorvete no inverno, mas isto é moda”? Se depender das delícias da  sorveteria mineira Easy Ice, foco do trabalho do grupo, e da contribuição de cada um destes profissionais, gerando produtos incentivadores em suas áreas, o sucesso de vendas está garantido mesmo quando os graus de temperatura externa imitarem os internos de uma loja de “gelados”!

E no showroom do  Minas Trend/Inverno 2014? Sucesso também? No encerramento do evento o clima era de otimismo, aquecido por um aumento significativo na movimentação dos negócios. A semana de moda mineira é uma das mais completas em seu cardápio de opções para compradores. Nesta edição reuniu 200 marcas representativas dos setores de vestuário, calçados, acessórios e bijuterias e segundo pesquisa divulgada pela FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), realizadora do Minas Trend, foi registrado  um incremento de vendas da ordem de 18% com relação à temporada outono/inverno 2013.

 E na passarela?  A parceria entre setores – elos da engrenagem – confirmou-se em desfiles duplos como os da Plural/ Vicenza; E.Store/Paula Bahia e Ammis/Esdra , que dividiram passarela com os solos de Fabiana Milazzo, Victor Dzenk, Áurea Prates, Apartamento 03, Gig, John John, Llas, Jardin e Lucas Magalhães. A mineira Vivaz apresentou a sua coleção em desfile externo  nas instalações de sua  fábrica/atelier. E por um bom motivo: comemorar os  seus 15 anos  entre funcionários e colaboradores que participam da sua história e crescimento. (Nereide Michel)

PASSARELA

E.STORE/PAULA BAHIA

Na cartela, destaque para o preto, o branco e off white.  Contudo, o jogo de texturas lisas ou com relevos que, combinadas entre si, criam padrões gráficos ou geométricos, é um diferencial interessante na coleção da E.Store.  Já Paula Bahia apresentou no showroom do Minas Trend uma coleção com 90 modelos, que aliam o conforto com diferenciais,  que personalizam a marca. Na passarela, a confirmação também nos pés da volta do branco para o inverno. Os scarpins da Paula Bahia repetiram as cores  preferidas pela E.Store nas passadas das modelos.

 PLURAL/VICENZA

Plural  agendou viagem para o Parque Nacional de Yosemit, na Serra Nevada, na Califórnia, como destino ao desenvolvimento do seu Inverno 2014. A biodiversidade e a beleza da reserva estão nas estampas da coleção, que incluem até imagens das sequóias, ursos negros e veados. Entre as apostas da marca estão o comprimento midi,  t-shirts em alfaiataria, casacos 7/8, ombros largos e com formas arredondadas. Já a Vicenza, que  assinou as sandálias que complementaram os looks no desfile, apresentou na passarela uma prévia das linhas seguidas para a sua coleção para a próxima temporada: saltos blocos, que incluem  texturas – nestas, ficou interessante as com efeito matelassê, volumes e formas sinuosas. Metalizados, chamados Galaxy, e couros box com acabamento em semi-brilho, verniz e atanado.

AMMIS/ESDRA

A coleção da Ammis prima por uma cartela que flutua por tons clássicos e sóbrios, como vinho, uva, cinza, azul bic, rose, marinho, caramelo, preto e branco.  O motivo? Oferecer à consumidora da marca a variedade que ela busca em um guarda-roupa  que tanto pode ter um vestido ajustado como um fluído, uma saia curta como uma midi, casacos com mangas curtas e três quartos. A marca também pensa na diversidade de perfis para ampliar presença no mercado. Na passarela do Minas Trend firmou parceria  com a Esdra, que impressionou com uma série de scarpins nas cores preto e vermelho , com  detalhes em metal  geométrico: ônix nos modelos preto e dourado nos vermelhos. A marca gaúcha, que tem na direção criativa Sarah Scheffel, aposta nos materiais exóticos, como o croco, anaconda, pêlo jaguar e metalizados, no matelassê  que se utiliza da mistura exuberante do animal print, nos zíperes, vazados, franjas e jóias.  O tênis  Boxing, saído dos  tatames, ganhou um toque feminino e bico fino.

VICTOR DZENK

A inspiração veio do fascinante mundo árabe com seus costumes, arquitetura e religiosidade. Motivo para levar à coleção toda a temática impactante e exótica proveniente de tons e sensações absorvidos pelo estilista em sua viagem por cidades como Marrakesh. Das roupas aos acessórios – os sapatos têm “origem berbere”, onde não faltam babouches e flats em nobuck, e cintos com acabamentos em cerâmica, metais, madrepérolas e miçangas – a proverbial exuberância de Victor Dzenk ganhou espaço tanto nas linhas feminina como na masculina. Mas peças “mais controladas” , sob o aspecto comercial,  fazem o contraponto necessário para o seu  Inverno 2014.

JOHN JOHN

On the Road – nada mais apropriada do que esta temática para o Inverno 2014 de uma marca que segue os caminhos de um consumidor jovem, descontraído e sempre pronto para embarcar em uma aventura  que  o leve a outros cenários e lhe provoque novas emoções. Como o clima que, com certeza, vai envolver os “viajantes” deste imenso Brasil no ano da Copa. E haja camiseta, jaquetas, jeans e bonés para acompanhar o ritmo  desta turma!

AUREA PRATES

Uma das referências em comportamento dos anos 90, o grunge é revistado pela Áurea Prates, mas com um toque  sofisticado.  Uma fórmula meio complicada que a dupla de estilistas Thalita Rodrigues e Áurea Prates conseguiu levar a bom termo sem descuidar de uma das características da marca, o trabalho manual  – o handmade  –  como, por exemplo, no xadrez típico do adeptos do movimento que ganhou interpretação artesanal através do recorte em organza (o tecido  marca sempre presença nas  suas coleções) de cores diferentes, cortadas a fio. Vestidos adornados com miniplumas e pontos de cristal ressaltam a feminilidade que nunca falta à marca mineira.

VIVAZ

Códigos da Trajetória  foi o tema escolhido pela grife de moda festa para desenvolver a sua coleção 2014. A referência  à história da Vivaz é evidente – afinal, ela está comemorando 15 anos – a idade de uma debutante, muitas delas, com certeza, já vestiram um modelo nesta data tão especial!

APARTAMENTO 03

Luxo,  palavra que hoje em dia tem muitos sentidos. Até o de não ter “luxos”,  mas optar por uma vida liberada de pressões de consumismo. Para Luiz Cláudio , ela surgiu naturalmente como fonte de inspiração para o Inverno 2014 de sua marca ao se contrapor à onda do fast fashion. O luxo, para ele, é não ter pressa ao pensar e confeccionar uma peça,  pois esta  precisa necessariamente de um tempo de gestação para vir à luz. Período em que se  pode vagar pelas lembranças familiares, recordar o jeito de se vestir e se comportar de uma tia-avó, ou mergulhar na  memória de um vestido de noiva antigo, do qual o estilista extraiu três mil flores em crochê de lã e bordados com microcristais e transferiu para looks especiais da coleção. Outra referência, igualmente nostálgica, foi capturada do universo da norte-americana  Lillian Bassman, fotógrafa de moda e diretora de arte da Harper´s Bazaar, nos anos 1940. Ela ficou famosa pelas fotografias feministas em preto e branco, tratadas na câmara escura.

 

LUCAS MAGALHÃES

O estilista não desvia o seu foco do cotidiano para se inspirar nas coleções. No Inverno 2014, seu olhar foi além do horizonte belo de sua cidade, mas não desviou da brasilidade: as manifestações simbólicas e estéticas das tribos indígenas. Em sua coleção “capsule” unissex, novidade desta temporada,  esta temática surge de forma não explícita, mas ganha força em uma cartela que inclui cores como jenipapo e urucum A jaqueta bomber  é uma aposta para abrigar do frio quem sai da oca em dias de temperatura baixa.

JARDIN

O Inverno 2014 da marca tem na China o seu ponto de origem: nas formas e nas estampas a delicadeza das porcelanas e a fotografia gráfica e romântica do filme “Amor, à Flor da Pele”, do diretor Wong Kar-Wai,   são sutilmente trabalhadas pela estilista Bárbara Renault. A cleção Chinatowon da Jardin opta pela combinação do ântico com o novo,  e um jogo de contrastes nas texturas, estampas e shapes diferentes.

 LLAS

A marca trabalhou em silêncio o silêncio. Sem alardes dá continuidade no Inverno 2014 a um trabalho que busca contrapor dualidades. Lorena e Laura Andrade, a dupla de estilistas,  gostam do contraste e se apropriam dele no jogo entre formas orgânicas e arredondadas e linhas verticais e precisas. Dos bordados e beija-flores às listras e linhas pontuais. Dos shapes esportivos  às construções delicadas. Das cores sóbrias e neutras à uma cartela que é puro arco-íris.

 

 FABIANA MILAZZO

Art  Nouveu, movimento que marcou o final do século XIX e início do século XX,  e que tem na natureza sua fonte criativa, da qual captura cores e formas, está presente na coleção de Fabiana Milazzo. Para ela, conforto e leveza devem estar aliados em roupas de festa, que nem por isso prescindem da riqueza dos detalhes e da preciosidade dos materiais e bordados.

 

GIG

O Inverno 2014 da GIG chega com uma comemoração: os dez anos da marca. Por isso, a coleção foi desenvolvida em ritmo de música – a dos anos 80, que embalou os sonhos da jovem Gina Guerra de um dia se transformar em “dona” da criação de suas roupas. O espírito irreverente do período permeia as peças que  trazem formas mais amplas, com destaque para vestidos, saias, calças carrot,  jaquetas  bomber e tamanhos maxi em blazers e coletes.

SHOWROOM

Além das passarelas, as marcas buscaram no showroom o contato direto com os compradores, sem dúvida, os últimos elos da engrenagem que se encerra quando o consumidor sai de uma loja levando o produto, que começou na  inspiração de um estilo e no projeto de desenvolvimento  de uma coleção.

LILLA KA

Coleção inspirada livremente no universo de Wes Anderson, diretor de filmes como  “Viagem a Darjeeling” , “Os Excêntricos Tenenbaums”, “Moonrise Kingdom”, “O Fantástico Sr. Raposo” – que trabalha histórias lúdicas e escapistas.  Elementos também trabalhados pela marca que investe em estampas que remetem  a floresta, bichos camuflados, desenhos geométricos e temas étnicos.

BÁRBARA BELA

A marca de roupa de festa revisitou o passado – uma época não tão distante assim, mas  quando a opulência fazia parte do cotidiano –  para transferir elementos de luxo para uma  coleção que, contudo,  se insere na contemporaneidade. Tecidos e bordados metalizados, misturas de estampas e padronagnes, riqueza de formas e desenhos  proporcionam  o encontro do suntuoso com o moderno.

MARILIA CAPISANI

Minimal Chic  é o foco da gaúcha Marília Capisani para o Inverno 2014. Linhas limpas, que aparecem ao lado de metalizados nas chamadas Joias da Natureza – produzidas com a extração dos materiais de maneira  sustentável . O tom de açaí aparece  nas peças em forma de pedras ametistas e no acrílico, que acompanham a linha de desenho tribal navajo. Outro destaque são os trabalhos em metal que seguiram os formatos delicados do papel dobrados na técnica origami.

CALMONI

A marca mineira, comandada pelas sócias Maria Antônia Calmon e Marilia Albuquerque, não se prende a temas. A proposta é vestir a mulher em todos os momentos de seu dia a dia com a praticidade de uma camisa.  O estilo varia de acordo com os seus compromissos, tanto pode ser uma peça descontraída como mais sofisticada. O Inverno 2014 da Calmoni  apresenta peças lisas, e também opções com estampas exclusivas,  motivos geométricos, micro gravataria, micro animais naif, op art recolorizadas, efeitos em 3 d, estampa grunge chic, mesclando xadrez e floral  estão entre os padrões trabalhados.

 

Cosmopolitan batiza o Inverno 2014 da mineira DBZ Jeans. Volta-se para consumidoras urbanas e independentes que podem optar por uma variada gama de peças como o denim básico, resinado, com texturas, destroyed e estampados. Alfaiataria minimalista e calças com cós – clássicas ou super coloridas com pegada artsy – completam a coleção ao lado da sofisticada camisaria.