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por Conceito Atual em 17/12/2012

Mineiro, costuma-se dizer, não tem pressa. Trabalha em silêncio. Sabe que o trem sempre chega a um destino – é só embarcar, apreciar a paisagem e esperar a sua estação chegar. A moda que brota nas suas paragens segue este manual, escrito pelo carinho às tradições de sua história e de sua gente. A boa moda mineira é sem pressa, costurada, tecida e bordada no silêncio dos ateliers e não perde o “trem”: desembarca na estação na hora certa, ansiosa para contar suas novidades. Não se isola da chamada interferência globalizada, espelhada nos temas da temporada, mas mantém a sua assinatura, compromissada com o seu jeito de ver o mundo – através da janela do trem da sua história.

O 11º Minas Trend Preview, que aconteceu em Belo Horizonte de 20 a 23 de novembro, com realização do Sistema FIEMG, armou passarela para os lançamentos do Inverno 2013, sob inspiração da diversidade brasileira. Marcas e estilistas mineiros dividiram espaço com os de outros estados nas amplas instalações no Expominas, onde ficou centralizada a movimentação comercial do evento. Roupas, calçados, bolsas, jóias e bijuterias – de 234 expositores – apresentaram coleções, vindas de várias regiões do Brasil, mas que dialogaram entre si nas cores e tendências. Afinal, a moda veste o corpo inteiro – aliás, este foi o tema do Paraná Business Collection, semana de moda com assinatura paranaense, que também deu a sua contribuição para transformar novembro no mês mais fashion de 2012. Fashion Rio e Fashion Business também marcaram presença no mesmo período do calendário. (Nereide Michel)

MINEIROS NA PASSARELA

Marcas e estilistas mineiros, que optaram por mostrar o seu Inverno 2013 em desfile, escolheram coerentemente para esta apresentação cenários que fazem parte do roteiro cultural da cidade: Museu de Artes e Ofícios, espaço Cento e Quatro e a histórica Prefeitura de Belo Horizonte.

OJExxi por Gustavo Lins: o estilista mineiro tem formação em Arquitetura. É o único brasileiro que participa da Semana de Alta Costura de Moda de Paris, sendo membro permanente da Câmara Sindical da Alta Costura Parisiense. A marca é a concretização de um projeto que começou com um curso de modelagem intuitiva, realizado pelo SENAI MODATEC, em Belo Horizonte, em 2011. Seis dos seus participantes foram escolhidos para criar, sob a tutela de Gustavo Lins a primeira coleção OJExxi, que tem como um dos destaques a estamparia resultado de 40 painéis com sobras de tecidos, desenvolvidos pelos alunos do curso, que foram fotografados e estudados até chegar a desenhos caleidoscópicos.

PATRÍCIA MOTTA: a referência mineira em roupas de couro surpreende a cada temporada com a evolução de um trabalho que intercambia este material com outros igualmente nobres. O seu Inverno 2013 privilegia pítons, peles, seda pura e organza, além de um apurado bordado em tiras que caracteriza sua inspiração para a temporada: o mundo da alta velocidade da Fórmula 1.


GIG: o tricô sempre foi um dos pontos altos – e entrelaçados com a cultura mineira – da produção das Alterosas. A marca da estilista Gina Guerra sempre faz bonito neste quesito. Suas tramas se revelam marcantes pela preocupação que ela demonstra em apresentar o novo em uma das mais tradicionais formas de tecer peças de vestuário. O inverno 2013 da GIG buscou nas origens de um novo mundo seu foco de desenvolvimento de vestidos, saias, calças e jaquetas. Superfícies metálicas dão acabamentos tecnológicos e urbanos ao toque suave e acolhedor do tricô.


VIVAZ: a marca de moda festa, da estilista Elisabeth Faria, percorreu os Caminhos Reais das Minas Gerais para se vestir com a riqueza de bordados e detalhes, que define o barroco – uma das vertentes do Inverno 2013. O shape coluna é forte presença na coleção e aparece em saias de vários comprimentos e vestidos com mangas longas ajustados ao corpo. Muito brilho, que este não pode faltar por onde “passaram reis e rainhas”, graças à utilização de cristais Swarovski Elements que recobrem tecidos, reinventando o brilho das pedras preciosas. Renda trabalhada de forma arquitetônica é aplicada manualmente resgatando o passado para os tempos modernos, que não vive sem os seus sonhos românticos.


APARTAMENTO 03: a marca de um dos mais promissores e criativos estilistas mineiros – Luiz Claudio – lançou olhares além das montanhas das Alterosas. Batizada Flâneur, sua coleção passeia pelos escritos de George Sand, ou Amandine Aurore Luciele Dupin, que se vestia com roupas masculinas para conviver com os seus colegas boêmios da Paris do século 19. Mas a sua viagem não parou pela capital francesa, seguiu a rota do Visconde Partido ao Meio, de Ítalo Calvino, e seu extremismo entre o Bem e o Mal, forças opostas que buscam o equilíbrio. Androginia e dualidade imperam nas roupas – que remetem também à filosofia chinesa do yin e do yang – numa cartela restrita ao preto, o lado da sombra e da escuridão e ao ranço, da claridade e da luz. O foco artesanal do seu trabalho persiste nos drapeados elaborados à mão à La Madame Grès. nas tramas de tiras vazadas e bordadas em ponto cheio e rebordadas com canutilhos e nos bordados que recobrem jacquards.


LUCAS MAGALHÃES: o famoso prisma da capa do disco do Pink Floyd se transformou num “prisma de visão das coisas” – ponto de partida para a coleção do estilista. Dar cor ao branco… esta foi a sua missão! Cumprida sob a forma de contraponto entre materiais rústicos e tecnológicos, misturando-os e lhes agregando texturas, tintas e vernizes.


JARDIN: a marca já traz no nome o elo forte que a liga à Natureza. Desta vez, foram as asas de insetos que impulsionaram o desenvolvimento da coleção assinada por Bhárbara Renault, que traz misturas de texturas e de tonalidades numa mesma peça. Mangas, golas e recortes, ora geométricos, ora orgânicos, remetem a um universo particular que povoa a imaginação de muita gente, desde os tempos de infância.


PLURAL: Gláucia Fróes e Letícia Leão assinam o estilo da marca, que se “grudou” nos fragmentos urbanos para a coleção Inverno 2013. O resultado são roupas confortáveis para serem usadas no dia-a-dia, e com forte referência no militarismo. Traduzido, aliás, de uma forma delicada para o universo feminino como nas parkas e casacos. Padrões geométricos, faróis de carros e estruturas de grandes edifícios estampam as peças. Moletons oversized e tecidos fluídos revelam a preocupação com uma elegância despretensiosa e que combina com a agitação das grandes cidades.


VICTOR DZENK: a estamparia digital faz parte do DNA das coleções assinadas pelo estilista mineiro, assim como os tecidos fluídos, que praticamente dançam ao redor das silhuetas. Aliás, a era Disco dos anos 70 inspirou o seu Inverno 2013 mostrada bem a propósito no Café de La Musique, de Belo Horizonte. O estilo glamouroso e divertido dos frenéticos Dancing Days está presente nos metalizados que fazem brilhar detalhes ou looks inteiros. A inspiração das estampas segue quatro temas: Disco (baseada na iluminação das discotecas, com seus globos, gelo seco e reflexos coloridos próprios desta ambientação); 70´s (formas geométricas tão comuns nos papéis de parede na época); Music (teclas de piano e elementos musicais)e Píton (desenho da pele de cobra que começou a explodir nesta década).


MINEIROS NO SALÃO DE NEGÓCIOS

MARY DESIGN: Mary Arantes optou por mostrar o seu Inverno 2013 de forma passiva – no seu estande no salão de negócios do Minas Trend Preview. Passiva pela exposição das peças nas prateleiras, que não lhe permitiam o movimento presente num desfile em passarela. Uma passividade que, contudo, não significou falta de emoção e comprometimento com o meio social e ambiental no qual a estilista se encontra para fazer o seu trabalho.

De um lado as prateleiras e do outro, um painel de fotos retratando “mulheres incomuns”, que seduziam olhares e comoviam corações dos que adentravam ao espaço comercial. Quem são estas mulheres? São as musas inspiradoras da coleção Mary Design batizada INCOMUNS. São mulheres superlativas que na visão da designer superam ou superaram limitações e criaram o seu próprio estilo de viver, se vestir e de falar de si próprias. Vale a pena conhecê-las. Como Lena Fraga, irmã que criou os estilistas Ronaldo e Rodrigo Fraga, órfãos, numa infância pobre de “sapato único”, ou de Margarete Maria da Silva, gari, que se define “eu cresci assim com essa cisma de ser eu mesma” e que se espeta toda pra lembrar da índia mocinha, “toda espetada” que vira num filme quando criança. Sua mãe gostava muito de índio. Outras mais estão no www.marydesign.com.br

RONALDO FRAGA: presente com sua coleção no Salão de Negócios, o estilista presenteia o “público em geral” com uma exposição retrospectiva de sua carreira. Durante o Minas Trend Preview ela estava aberta no Palácio dos Despachos, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. Carreira contada sob a forma de todas as coleções assinadas pelo estilista, começando pela memorável Eu Amo Coração de Galinha passando pelas “homenagens inspiratórias” focando personagens e suas obras: Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Nara Leão, Pina Bausch, Noel Rosa e o amigo Jum Nakao com o qual compartilhou coleção numa “carta trocada entre os dois.”. Segundo Ronaldo Fraga, “nesta mostra, desvendo pequenos vestígios de uma escrita particular, desenhados por mim e vestidos nos outros. Por riscos, rabiscos e esboços, desenhei histórias absurdas do homem comum…”

JOTTA SYBBALENA: este mineiro vive tanto no Rio Grande do Sul, que está sendo confundido com gaúcho, tche!. Por conta, é claro, de sua dedicação atual e exclusiva aos sapatos. Das roupas mostradas em passarela, em outros tempos, acumulou a experimentação e a preocupação por produtos bem acabados e bem conceituados. O Inverno 2013 da J&S, do designer, lançado no Minas Trend Preview, segue o caminho das das tradições asiáticas, do luxo do decorativismo barroco e da suavidade do Romance Couture. As combinações de azul safira, preto e branco são assimiladas do trabalho de Willys de Castro, um dos principais representantes do Concreto e do Neo-Concreto da década de 1950. Texturas de bordados vintage, pesquisados em antigos livros de bordados computadorizados das décadas de 1970 e 1980, se tranformam em arabescos barrocos. O Pássaro Chinês, símbolo de poder, lealdade, honestidade, virtude e graça, traz “agilidade” aos pés de quem não tem um minuto a perder. Aliás, asas fazem parte da identidade Jotta Sybbalena no seus vôos pela moda.

LUIZA BARCELOS: Equilíbrio conceitua a coleção da designer que traz um inverno sofisticado, chique, ousado e sensual. Contraste de estilo para atrair a consumidora múltipla em suas facetas e atividades. A ousadia dos metalizados com efeito holográfico e sandálias abotinadas, com volume na altura dos tornozelos e recortes em laser, são apostas para a temporada. Bolsas estão mais coloridas para harmonizar com modelos mais discretos de sapatos.