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por Nereide Michel em 15/06/2023

O contraste está onipresente no Parque Estadual de Vila Velha, localizado em Ponta Grossa, a uma distância de 90km – uma hora de viagem –  de Curitiba. Para olhares atentos, guiados pela sensibilidade, é impossível ignorar o que a Natureza levou milhões de anos para construir e a interferência humana na paisagem – direcionada a oferecer conforto aos visitantes as “mexidas” no cenário mal completaram um século.

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“Mar do Sertão”, novela da temporada 2023, da Rede Globo, encerrada em março, título justificado no enredo da trama, também pode ser definição plausível ao cenário que se apresenta majestoso no horizonte do Segundo Planalto paranaense. Pesquisas científicas comprovam que a região já foi fundo de mar e vestígios não faltam para eliminar qualquer dúvida que possa existir sobre o fato. Na trilha percorrida pelos turistas é possível tocar em uma areia fininha – sinal que a erosão dos arenitos continua – um pouco diferente daquela encontrada nas praias de hoje uma vez que precisou de milhões de anos para ganhar a consistência atual.

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 Já os arenitos, atrações principais de Vila Velha, com suas formas curiosas e instigantes – algumas óbvias, como a Taça e a Bota, e outras pedindo apoio da imaginação para serem desvendadas –  foram formados pela ação dos ventos, chuvas e erosão em um processo que durou 300 milhões de anos.

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Com um passado que oscila entre o misterioso e a realidade, não surpreende que a Vila Velha acumule narrativas para esclarecer alguns pontos não tão claros sobre sua origem. Antes da chegada dos portugueses e espanhóis ao continente sul-americano, a região dos Campos Gerais já tinha os seus habitantes – cismados com os acontecimentos que envolveram o surgimento, por exemplo, das formações areníticas que faziam parte do seu habitat.

Aracê Poranga nos traços e cores de Eloir Jr

Conta a lenda que a “cidade de pedra” foi escolhida pelos primitivos moradores da região para ser o “Abaretama”, “terra dos homens”, onde seria escondido o precioso tesouro “Itainhaqreu”. Com a proteção de Tupã, era vigiado pelos homens mais valentes da tribo, que desfrutavam de todas as regalias – menos a de ter contato com as mulheres. Diziam que elas não sabiam guardar segredo.  Dhui estava entre os guardiões, embora não resistisse ao fascínio feminino. Sabedores dessa “fraqueza” as tribos rivais escolheram a bela Aracê Poranga para seduzir o guerreiro e descobrir o esconderijo do tesouro.

A jovem, contudo, apaixonou-se perdidamente por Dhui e numa tarde primaveril lhe entregou uma taça de “urucuri”, licor de butiás, para embebedá-lo. Mas o amor que sentia por ele a levou a tomar também a bebida. Entrelaçados adormeceram sob a sombra do ipê amarelo. Tupã vingou-se desencadeando um forte terremoto e Abaretama, destruída, se transformou em pedra. O tesouro de ouro fundiu-se e liquidificou-se formando a Lagoa Dourada – outra das atrações do complexo turístico – enquanto os dois amantes foram petrificados, um ao lado do outro, juntamente com a taça. Suas imagens estão eternizadas nos arenitos. Assim Abaretama se tornou Itacueretaba, isto é, Vila Velha.

ENIGMAS DA NATUREZA

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O guia turístico Arandy Junior conhece o passado e o presente de uma das principais atrações turísticas paranaenses. Geologia, história, cultura, lenda – os seus relatos acompanham cada detalhe que formata o Parque Estadual de Vila Velha enquanto lidera visitantes pelas trilhas do Arenito e também nas outras paradas obrigatórias – Lagoa Dourada e Furnas – cada uma com as suas histórias. Ou lendas?

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Reza a lenda que as águas da Lagoa Dourada esconde um tesouro. Quando o sol bate nelas a confirmação vem à tona.

HAJA IMAGINAÇÃO!

Como os primeiros habitantes da região de Vila Velha, os atuais visitantes da atração turística exercitam a imaginação e a criatividade na contemplação das diversas formações que a natureza levou milhões de ano para conceber. Algumas são perceptíveis ao primeiro olhar mas outras pedem um pouco mais de atenção para serem descobertas – um desafio que agrega curiosidade e diversão ao passeio.

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De repente, um camelo surge no horizonte. Veio do Saara ou é originário dos Campos Gerais?

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Pela tromba ninguém duvida que simpático animal é este meio oculto na mata. Como veio parar aqui?

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Uma parada para beber um energético refrigerante na caminhada vai muito bem. A natureza caprichou na formação da garrafa.

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Galeria a céu aberto. A arte esculpida nas pedras poderia fazer parte do acervo de um museu contemporâneo.

INTERVENÇÃO ATUAL

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Como um polo de interesse turístico o Parque Estadual de Vila Velha – que ocupa 38 quilômetros quadrados e começou a existir como tal em 1953 – passou por diversas benfeitorias para oferecer mais conforto aos milhares de visitantes que anualmente conhecem a sua impactante beleza.

Hoje é administrado por uma empresa do grupo Soul Parques graças a uma concessão do Governo do Estado do Paraná por meio do Instituto Água e Terra. Uma decisão que resultou bastante positiva diante da cuidadosa preservação de seus atrativos, promoção de conscientização ambiental e implantação de obras que resultaram em comodidade aos turistas.

MENU DE ATRAÇÕES

Divulgação

Como bom anfitrião, o Parque Estadual de Vila Velha recebe os visitantes com mesa farta, com vista privilegiada da natureza que a cerca. A sua mais recente opção gastronômica é o Bosque das Araras, que funciona desde 2018, na  Colônia Dona Luiza, em Ponta Grossa, e desde março passado assumiu os quatro pontos de atendimento culinário no complexo turístico.

De acordo com o proprietário dos estabelecimentos, o administrador Bruno Montes, a proposta é transformar também a gastronomia em um dos atrativos aos turistas, além de destacar a cultura local através das receitas regionais.

Alcatra na Pedra / Divulgação

Restaurante Bosque Vila Velha: cardápio completo, com a alcatra no espeto, prato típico da região, como prato principal. A carne pode ser escolhida pelo cliente: além da alcatra as sugestões são  ancho, picanha, mignon ou picanha suína, acompanhados por arroz, feijão, salada, maionese, polenta frita, farofa e nhoque frito ao molho Alfredo. Como sobremesa, há opções de tortas e pudim de leite. Já as bebidas contemplam refrigerante, água, suco, cervejas e drinks diversos. Funciona nos finais de semana e feriados.

Bosque Express: para refeições rápidas. No cardápio café da manhã e da tarde: lanches, salgados (fritos e assados), tortas (doces e salgadas), café, suco, além de servir pratos executivos e também lanches para o almoço. Destaque para os hambúrgueres artesanais: angus, costela e cordeiro. Abre de quarta a segunda-feira.

 Bosque Furna: opções diferenciadas, como açaí artesanal, sanduíches naturais e bebidas. Funciona de quarta a segunda-feira.

Bosque Lagoa Dourada, funciona nos finais de semana e feriados, ao estilo café oferece salgados (assados e fritos), tortas (doces e salgadas) e bebidas.

ARENITOS E MAIS…

Sérgio Mendonça

Sob nova administração o Parque Estadual de Vila Velha ampliou as opções de entretenimento e de lazer aos visitantes. Atrações de aventura estão representadas pelo aprazível Cicloturismo, os emocionantes Arvorismo e Tirolesa, que passa por cima das Furnas, e o contemplativo voo de balão estacionado. Uma experiência inesquecível, que direciona os olhos para a imensidão do universo em noites de lua Cheia, é oferecida pelo Passeio Noturno, com agendamento prévio.

Mais informações e ingressos adquiridos pela internet no site https://parquevilavelha.com.br/