Coisas Novas

por Nereide Michel em 17/12/2025

A designer curitibana Marina Kurten Moreira optou por materializar suas criações no frágil limiar que separa o artesanal e o industrial. Um desafio que obriga atenção redobrada para que uma forma de concretizar inspiração e/ou conceito não invada a outra comprometendo assim a delicadeza e o impacto presentes em uma mesma peça. Uma convergência entre opostos deve existir para que a arte e a funcionalidade reinem juntas e exerçam o seu poder diferenciador em um universo onde a transitoriedade marca presença ante tantos e repetitivos modelos.

Cícero Kroeff

A coleção Merge, recém-lançada por Marina Kurten Moreira, exemplifica o quão essencial é o contraste na formatação dos seus trabalhos. Mesas de jantar, de centro e laterais não desprezam a convencionalidade – a necessidade que as gerou para uso cotidiano – mas ganharam outros atributos que lhe emprestaram significados além da praticidade. 

Lembrando que em inglês, merge significa fundir, unir, misturar, mas seu verdadeiro sentido está no intervalo entre as partes. É no instante da transição, quando um elemento começa a se tornar outro, que nasce o equilíbrio que a coleção expressa. Nela, o gesto artesanal e a precisão construtiva coexistem como forças complementares. A matéria não é apenas moldada, mas transformada em diálogo. O latão vibra sob a luz, a forma respira e o tempo do fazer se torna visível.

Cícero Kroeff

Nesta edição, a designer aprofunda sua investigação sobre contrastes táteis e visuais. O latão martelado se funde ao aço, e a laca é aplicada sobre as superfícies metálicas, criando composições que exploram brilho, textura e densidade. O diálogo entre esses elementos dá origem a planos que vibram sob a luz, ora refletindo, ora revelando a materialidade.

Cícero Kroeff

Merge é sobre encontros entre o humano e o autoral, o traço e a estrutura, o calor manual e a precisão construtiva. As mesas revelam um caráter escultórico, em que o cone, elemento recorrente em sua estética, atua como estrutura e ritmo, sustentando volumes que parecem flutuar no espaço. Nessa interseção de mundos, o objeto transcende a função e se torna contemplação, revelando a continuidade do fluxo, o equilíbrio dos contrastes, a fusão para o novo e a permanência na força.

Marina Kurten Moreira constrói uma linguagem cuja singularidade nasce da convergência entre a arte e a indústria, vocações que se entrelaçam em sua história de vida. Essa origem, presente em sua atuação, articula expressão e técnica, em uma abordagem em que o poético encontra o estrutural. Daí o direcionamento de sua produtividade focar em séries limitadas de Mobiliário Escultórico, que já resultaram nas coleções Mel e Polia.

Divulgação

A Mel aprofunda a pesquisa iniciada com a Poltrona Atacama, convertendo paisagens e anatomias em linhas contínuas. Curvas orgânicas guardam o fluxo do movimento; superfícies fluidas parecem suspender o tempo, convertendo gesto em estrutura que habita o espaço. Em 2024, o banco Mini Mel foi finalista do Elle Deco Brasil Design Awards (EDIDA BR 2024), na categoria “Pequenos Assentos”, uma das etapas nacionais do prestigioso Elle Deco International Design Awards.

Divulgação

A coleção Polia afirma a estrutura como pensamento. O próprio nome sugere o sistema de polias, mecanismo que redistribui forças e estabiliza o movimento. Esse princípio se converte em linguagem por meio de  trípodes e apoios que revelam equilíbrio calculado, resultado de um raciocínio que aproxima engenharia e expressão para sustentar presença arquitetônica no espaço.

 

ONDE ESTÁ

ATELIER DE MARINA MOREIRA

Alameda Júlia da Costa 1829, loja 03

(41) 98404-3673

www.marinamoreira.studio