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por Nereide Michel em 22/03/2023

Impossível permanecer alheio ao Festival de Curitiba, cuja 31ª edição acontece de 27 de março a 9 de abril transformando a capital paranaense em um amplo e diversificado palco. O evento é uma celebração à arte da interpretação cênica: todas as formas de se fazer teatro estão nele representadas para conquistar plateias dos mais diversos estilos e preferências culturais. Mais de 350 atrações compõem o FTC 2023 incluindo estreias nacionais, espetáculos premiados, a volta do Fringe, dança, circo, comédia, música, oficinas, shows e performances.

“Bem Amado Musicado”. Foto: Ronaldo Gutierrez

Segundo destaca Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Curitiba, o mote “Festival para Todos” não poderia ser mais adequado para uma programação que acontece em diferentes pontos da cidade e que busca levar arte e entretenimento, de modo acessível, para todos os tipos de público. A Mostra Lucia Camargo, por exemplo, com curadoria da produtora e pesquisadora Daniele Sampaio, da atriz e diretora Giovana Soar e do dramaturgo e crítico teatral Patrick Pessoa, conta com nada mais nada menos do que 32 espetáculos. Entre estes, “Ficções”, monólogo com Vera Holtz e direção de Rodrigo Portela; “Intimidade Indecente”, com Marcos Caruso e Eliane Giardini; “Gaslight -Uma Relação Tóxica “, último trabalho dirigido por Jô Soares; ” O Tempo e a Sala”, estreia nacional no Guairinha, coprodução com o Festival de Teatro e elenco paranaense –  retorno de  Simone Spoladore aos palcos- atuação e direção de Leandro Daniel; ” Invenção do Nordeste”, que descontrói o mito sobre “ser nordestino” e “Tartufo”, Molière em versão musical expressionista e sem falas.

Já a companhia holandesa Wunderbaum escolheu o evento para estrear mundialmente a comédia musical “Square/Praça”, espetáculo gratuito na Praça Santos Andrade, que mostra o cotidiano de uma praça pública com uma explosão sonora e sensorial.  Um número limitado de fones de ouvido será distribuído ao público. 

NOTÍCIAS DO PALCO

ABERTURA

Teatro La Plaza

” Hamlet”, do grupo Teatro La Plaza, é a peça que marca a abertura do Festival de Curitiba, às 20h30, no Teatro Guaíra. O texto de Shakespeare tem como intérpretes oito atores e atrizes adolescentes e adultos com síndrome de Down – neurodiversos – que fazem parte do coletivo baseado em Lima, no Peru. Dirigida por Chela de Ferrari, a montagem recria uma versão livre, original e provocativa do texto clássico em uma mistura entre tragédia e comédia com pegada pop e ao som do rap.

Teatro La Plaza

O “Hamlet” do Teatro La Plaza é uma trama emocional e pessoal entre Shakespeare e as próprias histórias dos atores em cena. Um relato pessoal e confessional  incorporado ao texto clássico que faz a plateia rir e se emocionar diante dos acontecimentos da vida de cada um e da condição humana em geral. Falada em espanhol, a peça é  legendada em português. 

ILUMINADOR É DIRETOR

Nay Klymt

Com cinco décadas de experiência, mais de 700 peças e dezenas de prêmios no currículo, o iluminador Beto Bruel estreia como diretor na peça “Ovos Não Tem Janela”, com texto inédito de Manoel Carlos Karam. Escritor, dramaturgo e jornalista, o autor, falecido em 2007, escreveu e dirigiu vinte peças de teatro na década de 70 e criou o importante grupo “Teatro Margem”, que marcou época em Curitiba pelo experimentalismo e postura política de resistência. Uma parceria de 50 anos, uma vez que Bruel trabalhou na companhia.

A ação de “Ovos Não Têm Janela” acontece em uma sala de recepção, onde um secretário lida com quatro personagens que esperam para serem atendidos por um médico. O texto flerta o tempo todo com o absurdo e o surreal, numa sucessão de acontecimentos insólitos. Auditório do Museu Oscar Niemeyer (MON), 05 e 06 de abril, às 20h30.

PARTITURA AMADA

Ronaldo Gutierrez

“O Bem Amado Musicado” chega ao palco com uma boa dose de nostalgia causada pela telenovela global, exibida nos anos 1970, com personagens marcantes como Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta e Irmãs Cajazeiras. E, é claro, com uma inesquecível trilha sonora assinada por Toquinho e Vinicius de Moraes. A versão apresentada no Festival de Curitiba tem, portanto, o grande desafio de imprimir a sua marca ao texto consagrado de Dias Gomes.

O diretor Ricardo Grasson convidou o autor pernambucano Newton Moreno e o compositor maranhense Zeca Baleiro para compor as canções justapostas ao texto do espetáculo. Na direção musical está Marco França – na cena ele faz o personagem Zeca Diabo enquanto Odorico Paraguaçu é vivido por Cássio Scapin, o Nino do Castelo Rá-Tim-Bum. Para reconstruir a “pequena, seca, rude, litorânea e quente” cidade de Sucupira, Grasson usa referências dos filmes de Federico Fellini, da xilogravura nordestina moderna e do teatro popular brasileiro para criar o clima vibrante e alegre como a melhor face do país. Teatro Guaíra, 3 e 4 de abril, às 20h30.

NO PICADEIRO

Sérgio Fernandes

Um espetáculo circense com música ao vivo que desenha, em narrativa teatral, a celebração da produção contemporânea de artistas negros. Esta é a proposta de Prot{agô}nistas – O Movimento Negro no Picadeiro, do coletivo homônimo, um projeto que nasceu em 2019 do olhar incomodado sobre a ausência de protagonismo negro na cena artística, especialmente no circo contemporâneo.  A apresentação reúne 25 artistas negros em números de palhaçaria, tecido, trapézio, contorcionismo, perna de pau e dança permeados por músicas autorais sob a direção de Ricardo Rodrigues.  No palco, cada artista circense – entre eles três palhaços – é exaltado por uma canção que constrói a narrativa do espetáculo. Guairinha, dia 1º de abril, às 20h30, e 2 de abril, às 19h.

ANTIGONA ATUALIZADA

Marcos Coletta

O teatro grego, 2,5 mil anos atrás, já contava a história sob a perspectiva dos perdedores. Foi nessa época que o poeta Sófocles escreveu “Antígona”, que traz um ponto de vista bastante diferente sobre conquistadores e conquistados. No enredo, a personagem Antígona é a filha do ex-rei Édipo, que caiu em desgraça. Sozinha, ela precisa desafiar o novo poder estabelecido a fim de sepultar o cadáver de um de seus irmãos, morto durante a guerra de sucessão ao trono.

O texto clássico chega ao palco curitibano interpretado pelo grupo Quatroloscinco, de Belo Horizonte. O espetáculo, uma espécie de atualização do original, reconfigura os elementos concebidos por Sófocles para criar uma dramaturgia quase toda inédita, concebido em três partes. Na primeira, ao redor de uma mesa de sinuca, três personagens mantém uma conversa de bar que entra e sai de questões complexas, como o autoritarismo, a censura, o direito à memória e os massacres promovidos pelo Estado, com referências diretas à história do Brasil, inclusive com trechos falados em guarani e italiano. Na segunda entrada, Antígona ressurge como uma entidade milenar e domina a cena para declamar um monólogo adaptado dos escritos de Sófocles. Na última cena, um encontro entre Antígona e Tirésias, um profeta cego da cidade de Tebas, cenário da peça. Sesc da Esquina, dias 3 e 4 de abril, 20h30.

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

Divulgação

8 de março, Dia Internacional da Mulher. Os reflexos dos objetivos de uma data tão expressiva em reivindicações e conquistas se fazem sentir em várias peças em cartaz na Mostra Lucia Camargo e também no evento paralelo Fringe. 

Wesley Cardoso

“Ficções”,  baseado no livro “Sapiens – uma breve história da humanidade”, monólogo com Vera Holtz,  mostra o universo de ficções e narrativas criadas por um “homo sapiens feminino”.  Teatro Guaíra, dias 30 e 31 de março, às 20h30.

Tiggaz

A presença feminina no contexto do sistema prisional é o tema de “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”, da Companhia de Teatro Heliópolis. A peça mostra mulheres que têm as vidas marcadas pelo encarceramento dos homens da família e que reinventam realidades transmutando as energias de violência e morte. Teatro da Reitoria, dias 03 e 04 de abril, às 20h30.

Maringas Maciel

Em estreia nacional, Nena Inoue investiga as próprias origens no teatro documental em “Sobrevivente”, parte dois da trilogia iniciada pela atriz e o dramaturgo Henrique Fontes em “Para Não Morrer”, que valeu a ela o Prêmio Shell de 2019. O texto seguinte estava pronto quando Nena descobriu que tinha uma vó indígena.. A peça então fala da descoberta e suas consequências. Teatro Zé Maria, dias 05 e 06 de abril, às 20h30.

Mariana Chama

“Eu tenho uma história que se parece com a minha” traz apenas mulheres em cena. Performance instalação concebida por Tetembua Dandara e ativada pelo encontro de uma neta e sua avó, Dirce Poli, de 95 anos, com interferências de sua mãe, Neuza Poli, e de sua irmã, Mafoane Odara. O público é convidado a adentrar um espaço que pode remeter a uma sala de vó, quintal ou mesmo uma festa dos anos 90, podendo acompanhar como, quanto e onde quiser, as narrativas que vão sendo reconstruídas pelas vozes, sabores e olhares presentes. Casa Hoffmann, 06 e 07 de abril, às 18h.

PIONEIRA CURITIBANA

Divulgação

Quando várias peças incluídas na programação do Festival de Teatro abrem microfone para vozes que clamam por representatividade, participação e reconhecimento do papel de mulheres e negros nas artes cênicas, uma atriz, ainda nos anos 50 e 60, assumiu sozinha esta luta. Odelair Rodrigues, considerada a primeira atriz negra curitibana – com atuação no teatro, televisão e radionovelas – merecidamente é tema de uma exposição em cartaz no café do Teatro Guaíra e personagem de “Odelair – uma peça teatral”. Em formato de metateatro, a montagem da Cia Kà de Teatro conta momentos marcantes e inéditos sobre a trajetória da artista. Quem assina a direção é Kelvin Millarch, acompanhado pela assistente de direção Amanda Soares. Uma sequência natural ao bem sucedido curta-metragem “Um prólogo para Odelair Rodrigues”, lançado em 2021. A peça terá duas apresentações no dia 08 de abril, às 16h e 20h, no Espaço Excêntrico Mauro Zanatta,

Álbum de família

A história da atriz paranaense começou em 1952, quando passou a integrar o grupo de Teatro Experimental do Colégio Estadual do Paraná. Odelair entrou em cena no espetáculo “O filho pródigo”. Formou-se em contabilidade e por não conseguir se posicionar profissionalmente na área foi trabalhar como doméstica. Ajudou a fundar o Teatro de Bolso, localizado na Praça Rui Barbosa, e foi integrante do Teatro de Comédia do Paraná. Ganhou diversas premiações ao longo de sua vida profissional. Casou-se, mudou para o Rio de Janeiro e retornou a Curitiba. Viveu preconceitos, devido à cor de sua pele, desde adolescente.  Um de seus personagens mais conhecidos é “Bidê”, com o qual contracenava com o ator Ary Fontoura, na TV Paraná, na década de 1960.

A DANÇA FALA

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As conexões entre a dança e o teatro estão bem representadas na 31 ª edição do Festival de Curitiba. Três espetáculos fazem parte da Mostra Lucia Camargo. Combinando referências e tecnologias, investigando possibilidades e experimentando limites, apresentam olhares que se complementam e estabelecem conversas.

“Primavera”. Foto: José Luiz Pederneiras

O Grupo Corpo retorna com duas coreografias assinadas por Rodrigo Pederneiras. A companhia trafega entre a ideia do recomeço e do sopro de esperança, em “Primavera”, e uma tradução poética da violência e da barbárie dos dias que vivemos, apresentada em “Breu”. Teatro Guaíra, 8 de abril às 20h30 e 9 de abril, às 19h

Renato Mangolin

 “c h ãO” , concepção e direção de Marcela Levi e Lucía Russo, é uma peça fragmentária e incompleta que toma emprestado da música o trêmulo – também conhecido como o som da dúvida – e a dissonância para pensar a tensão como vínculo vibrante e não somente como quebra. Teatro da Reitoria, 30 e 31 de março, às 20h30.

Karin Serafin

Dirigido por Alejandro Ahmed, “Matéria Escura” propõe uma dança na qual se modula emocionalmente músculo e esquelética através da gravidade, transitando para expansões em que tudo que se move é potência em dança. Teatro da Reitoria, 7 e 8 de abril, às 20h30.

+ INFOS

Site Festival de Curitiba

 www.festivaldecuritiba.com.br

Redes sociais disponíveis no Facebook @fest.curitiba, pelo Instagram @festivaldecuritiba e pelo Twitter @Fest_curitiba.

Ingressos disponíveis pelo site oficial e na bilheteria física no Shopping Mueller (Piso L3).

A Mostra Lucia Camargo é apresentada por Banco CNH Industrial e New Holland, Bosch, Novozymes, Copel e Sanepar – Governo do Estado do Paraná, com patrocínio de EBANX, DaMagrinha 100% Integral, GRASP e ClearCorrect.