Conecte-se

por Nereide Michel em 08/07/2013

De onde surgiu tremenda besteira – mentira armada pela vaidade – que qualquer registro seu tem que ser o da imagem perfeita, o da impossibilidade de qualquer defeito, evitável graças à eficiência comprovada da aparelhagem disponível no mercado? Nada contra, mas tudo a favor de uma imagem que se perpetua justamente por ser a do momento, a do exato instante em que se materializa, eternizada com o que se tem à mão. Absurdo pensar que ela só poderia ser eternizada com recursos 3D, quando basta um só Dedo apertando o  botão, já superado pelo touch screen, mas que funciona perfeitamente  quando a intenção é não deixar escapar um momento. Um instante que não pode competir com a tecnologia caso queira sobreviver.

Alexandre Linhares desfilou coleção “esculturas de vazio”, em 25 de maio de 2013 – noite de plena Lua Cheia –  em um salão de noivas, aqueles que atraem por oferecer num mesmo espaço as mais diversas opções para realizar o casamento dos sonhos. O estilista já se vestiu de noiva e fez presença performática num cruzamento curitibano que, não por acaso, ficava nas proximidades da Igreja de Santa Terezinha, templo dos casamentos dos “sonhos elegantes” de muitas noivas. Cerimônia que exige o registro de “fotos perfeitas”.

O registro perfeito para a coleção de Alexandre Linhares, desfilada no salão de noivas, não teve a participação dos holofotes da passarela, mas veio de uma máquina descartável, daquelas que se traz no bolso, em 22 de maio de 2013, no Passeio Público, Curitiba/PR. Clicada pelo próprio, que descreve assim o seu registro “perfeito do que poderia ser perfeito”.  Ao  apertar o botão, despreocupado da vaidade da perfeição, o seu registro saiu “mais do que perfeito”. Sem edição nenhuma – além do acréscimo da logomarca da Heroína – Alexandre Linhares, mas com a revelação espontânea, que prescinde da tecnologia.

“Tudo o que você vê é o fiel registro – de pouco mais de meia hora – de uma pessoa de verdade, bonita de verdade, com vestes verdadeiras. o flash é embutido na câmera. os dedos cortaram a lente. a ampliação cortou as fotos. A máquina é descartável. a modelo é a Laura Mór. beleza de Thifany F. fotos de Alexandre Linhares. todo o trabalho das peças é feito à mão – desde a montagem e composição dos bordados, até o tingimento. Tudo é feito no ateliê da Heroína – Alexandre Linhares.”

Tudo é feito no ateliê da Heroína, Alexandre, daí a sua liberdade de poder registrar seus instantes do jeito que você acha “perfeito”. E se expressar em minúsculas, que estas lhe são coloquiais.  (Nereide Michel)