Linkultura

por Nereide Michel em 07/02/2023

Museus têm a missão de guardar, preservar e exibir arte. Mas isso não significa que pinturas, esculturas e instalações tenham que ficar restritas às suas instalações. Curitiba, por exemplo, inclui no roteiro de  suas atrações murais com a assinatura do consagrado Poty Lazzarotto, que ocupam imensos espaços ao ar livre. Além de esculturas em praças e parques, como as de Manabu Mabe e Tomie Oktake na Praça do Japão e a de Emanoel Araújo, no Parque Tingui. Agora o Museu Oscar Niemeyer se integra ao conceito “arte a céu aberto” através do projeto “MON sem Paredes – Artistas Conquistam os Jardins do MON”, também incluído entre os eventos comemorativos dos 20 anos da instituição. 

Segundo a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, “cada vez mais democrático e inclusivo, com esta iniciativa, o Museu Oscar Niemeyer rompe definitivamente o limite físico de suas paredes e abraça a população, chegando ao espaço externo da instituição e tornando-se acessível a todos”.

Albari Rosa/ Divulgação AEN

As obras dos artistas Gustavo Utrabo e Mariana Palma ocupam pela primeira vez o Parcão, área verde ao lado do museu e bastante frequentado pelo público principalmente pelos pets e seus donos. Marc Pottier é o idealizador e curador da proposta que previu também que maquetes e desenhos de Utrabo revelando o processo de concepção de seus trabalhos do lado de fora sejam exibidos no Pátio das Esculturas no interior do MON.

Para Pottier “a arte no espaço público também permite uma variedade de atividades interativas que nem sempre uma exposição museológica permite. Ao criar ligações entre os exteriores e as salas expositivas do museu, este novo projeto permite mostrar muitas outras formas de expressão da criatividade artística.”

Albari Rosa/Divulgação AEN

” Semeador” e “Ao Redor de uma Árvore” são as obras do artista e arquiteto paranaense Gustavo Utrabo. Com este trabalho, ele cria paredes virtuais – uma nova sala sem barreiras físicas onde muitos outros artistas serão convidados a participar no futuro.

O “Semeador” passa por uma declaração sobre a vida a partir da passagem do tempo e surge de um percurso elevado do solo que conecta o museu ao jardim adjacente a ele. Esse trajeto é construído pela repetição de uma modulação de piso projetada por Niemeyer para o MON. Porém, em vez de uma simples repetição do existente, a sua proposta borra os limites entre o construído e o natural ao produzir o piso a partir de uma mistura de sementes típicas da flora paranaense em vez de optar pelos convencionais cimento, areia, brita e água. O artista partiu do entendimento de que nascemos por onde caminhamos e é olhando para o chão que aprendemos a caminhar.

O caminho leva o visitante à instalação, que nasceu  a partir de uma árvore que cresce levemente inclinada, buscando a luz do sol. A obra materializa-se como um gesto de cuidado, no qual uma amarração de peças metálicas, que sustenta a obra, envolve o caule e aproxima da copa –  uma relação intrinsecamente ambígua, de cuidar e ser protegido. A intervenção quer ser leve como a copa das árvores e, em um aceno de respeito, olha para cima e a circunda – um movimento que balança entre o zelo e a reverência. Um percurso ascendente em espiral concretiza a inspiração, estruturada num sutil jogo de forças entre equilíbrio e contrapeso. O toque no chão é feito por meio de quatro finos pilares e, assim como proferido por Ailton Krenak, pisar suavemente sobre a terra é o que se busca.

Albari Rosa / Divulgação AEN

Mariana Palma é a autora de “Transparências”, com forte  referência a Vanitas, um estilo de pintura produzido entre os séculos XVI e XVII no qual as composições procuravam provar a transitoriedade da vida, misturando símbolos de efemeridade e morte, as fotografias da artista exploram esse ambiente de memória presente e póstuma.

Ao imprimir fotos em voil para a série “Transparências”, a artista comunica a sensação que sente ao criar suas obras. Na instalação, apresentada num grupo de árvores em frente à entrada do MON, está embutido o convite para uma participação – a de se ver em meio às cenas produzidas. Para além das justaposições conseguidas através da composição e da distância entre os tecidos, o público torna-se mais um elemento da instalação. O caminho gerado por e entre os tecidos abre possibilidades para acessar novas percepções e visões de uma mesma obra que se mistura com quem a observa e com o espaço.

Albari Rosa / Divulgação AEN

Mariana Palma cria espaços pictóricos únicos, construídos pela justaposição de elementos de famílias distantes. Nas grandes telas de cores saturadas, azulejos convivem com folhagens, ralos com anêmonas, cortinas de teatro com flores, tecidos estampados, drapeados e desfiados. Nas aquarelas e fotografias, elementos naturais e artificiais geram híbridos improváveis. O resultado são composições inesperadamente harmônicas e enigmáticas que, ao causar certo estranhamento, convidam o espectador a destinar tempo para a sua observação. 

 

ONDE ESTÁ

“MON sem Paredes – Artistas Conquistam os Jardins do MON”

No gramado do MON, a partir de 8 de fevereiro

Museu Oscar Niemeyer

www.museuoscarniemeyer.org.br