Linkultura

por Nereide Michel em 12/07/2023

 Desde que a animação chegou a uma das grandes inovações do século XX – o cinema – cada geração de criança teve os seus personagens preferidos na grande tela. Dos gibis vieram Pato Donald, Mickey Mouse, Tom & Jerry e dos contos de fada, por exemplo, Branca de Neve – que ainda hoje é considerado um clássico da Sétima Arte. Depois de conquistar um público, que logo se tornou adulto dando vez aos seus herdeiros, os filmes infantis jamais deixaram de encantar e emocionar com os seus desenhos – responsáveis por atrair, pioneiramente, às salas de cinema uma plateia de calças curtas e laços no cabelo, futuros cinéfilos. Evoluindo da literatura ou das histórias em quadrinhos para enredos e personagens próprios, curtas e longas-metragens, “impróprios para adultos”, foram absorvidos por um público sem classificação etária conquistando o merecido reconhecimento pela sua seriedade e importância para informar sobre temas atuais.

Hoje ninguém mais contesta que temas tratados pelos filmes infantis dos mais diversos países e, portanto, culturas, formam um amplo painel de urgências e emergências capturadas ao redor do planeta. Desde anseios e decepções pessoais até questões globalizadas de preocupação geral, com certeza, as imagens cheias de propósitos, que surgem na telona, podem tanto alertar quanto apontar soluções.

“Dounia e a Princesa de Aleppo”, ambientado num cenário conturbado foca o impacto de conflitos armados sobre a infância. 

Uma excelente oportunidade para acompanhar a trajetória atualizada da Sétima Arte para crianças e conferir in loco – de preferência, na companhia do público-alvo – está na 2ª edição do SACI, Festival Internacional de Cinema Infantil, que acontece entre os dias 14 e 23 de julho em Curitiba. Quarenta e seis filmes de 12 países integram uma amostra do que vem sendo produzido no setor do audiovisual para o universo infanto-juvenil. “São obras que divertem enquanto discutem temas universais e oferecem uma perspectiva de outras culturas, estéticas e realidades”, destaca Rafael Perry, idealizador do evento.

A ideia da mostra SACI é contribuir com a oferta de atividades culturais, com foco na produção cinematográfica contemporânea para o público das mais diversas faixas etárias. Para ampliar a experiência e envolver as crianças a partir de dois anos na magia das histórias, arte-educadores vão realizar atividades antes e depois da projeção dos filmes. Para facilitar a escolha das sessões, a curadoria do festival fez indicações etárias a partir de 2, 4, 5, 8 e 10 anos de idade em sessões de 50 minutos, que podem reunir vários títulos de curta-metragem, sob temáticas como enfrentamentos, aprendizados sobre si e o mundo, perdas, tecnologias e saberes, sobretudo o protagonismo infantil e a pluralidade das infâncias.

 “Oink”, longa dos Países Baixos foi rodado com a técnica Stop Motion. É a história de Babs, 9 anos, e o seu porquinho.

Com  filmes rodados na Alemanha, Canadá, Chile, Espanha, França, México, Noruega, Países Baixos, Panamá, Portugal e Quirguistão, a organização do  SACI optou novamente  pela dublagem de todos os títulos estrangeiros. O trabalho, assim como na primeira edição, foi todo feito em Curitiba por atores adultos e infantis, envolvendo 150 horas de gravação em estúdio, com 51 vozes e uma equipe técnica de 12 pessoas, entre diretores, editores e mixadores.

As telonas que vão receber as atrações do festival estão em três espaços culturais da cidade: Museu Oscar Niemeyer, Cine Passeio e Teatro da Vila (CIC).

O QUE DIZEM AS CURADORAS

A escolha dos filmes passou pelo olhar atento das curadoras Célia Catunda, Isabela Silveira e Marília Hughes Guerreiro, três nomes de expressão nacional no audiovisual brasileiro e em Cultura e  Infância. “Todos os públicos estão em constante formação, mas o contato das crianças com as obras artísticas é especialmente marcante porque elas estão formando suas primeiras referências”, conta Isabela, que é gestora cultural e pesquisadora das infâncias.

Coordenadora e curadora do Panorama Internacional Coisa de Cinema, Marília Hughes, ressalta que o engajamento dos pais é importante também para desdobrar os temas após as sessões. “Os filmes podem ser disparadores de bons diálogos”, destaca.

Quanto à escolha das obras nacionais, Célia Catunda, que é também diretora das séries “Peixonauta” e “O Show da Luna!”, enfatiza o cuidado na escolha de filmes que aproximem as crianças da realidade brasileira. “A ideia é que essas histórias não ocupem apenas o lugar de folclore. São narrativas que fazem parte da nossa cultura”.

+ INFOS

SACI – 2º Festival Internacional de Cinema Infantil

14 a 23 de julho de 2023, em Curitiba

Museu Oscar Niemeyer (MON), Cine Passeio e Teatro da Vila (CIC)

 Ingressos: site saci.art.br/ingressos para sessões individuais, ou no formato “passe livre” para 1, 3 ou 10 dias.

As sessões no Cine Passeio e no Teatro da Vila, no bairro CIC, são gratuitas

Programação completa e ingressos em saci.art.br

O SACI é realizado pela Infinitoo e Isadora Flores Produção Cultural, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, por meio do Ministério da Cultura e Governo Federal. É patrocinado pela Oregon, apoiado pela Aços Continente e conta com a colaboração da Grasp. Também tem o apoio institucional do Museu Oscar Niemeyer (MON), Instituto Francês, Embaixada da França no Brasil e Aliança Francesa de Curitiba.