Linkultura

por Nereide Michel em 23/10/2019

… a arte não separa!

Na década de 90, Curitiba ostentava um merecido título: a capital do skate. De suas rampas nasciam campeões do esporte – entre eles, o mítico Ferrugem, um acumulador de medalhas de ouro e de títulos brasileiros e internacionais. Pistas icônicas, como a da Travessa da Lapa, da Praça do Gaúcho e do Jardim Ambiental, eram pontos de encontro de uma tribo de cultura peculiar – atitudes, linguajar e jeito de se vestir – que escapou do seu território influenciando até quem não era visto circulando pela cidade com uma prancha debaixo do braço. Mas curtia o visual de bermudas folgadonas, bonés e camisetas estampadas com a simbologia skatista. A emoção coletiva do esporte motivou o nascimento de marcas de moda jovem, que conquistaram adeptos Brasil afora– Drop Dead e e sua versão feminina Sista, que ganharam passarelas, e a Maha.

Algo mudou no cenário curitibano das manobras radicais. Contudo, reza o refrão “quem foi rei/rainha nunca perde a majestade” e o skate local mantém intacta a fama de ser referência quando o assunto é “prancha sobre o cimento”. Parece, aliás, indissociável ao que se costuma definir como “arte urbana” tanto como inspiração quanto como participante ativo desta forma de expressão.

JP Moser e Cristian Sapo

Um exemplo da união entre estas duas manifestações pode ser conferido na exposição Arte Circulante, em cartaz no espaço colaborativo Acervo Circular, até o final de novembro. A proposta é dos artistas plásticos JP Moser e Cristian Sapo que exibem 25 obras em técnicas mistas e tamanhos diversos, que têm como base a pintura de Moser interagindo com esculturas e objetos de Sapo. O resultado é uma instigante mistura de paisagens idílicas com a presença marcante de pistas de skate como elemento catalisador das linguagens propostas pelos artistas.

 Não poderia ser diferente. Moser e Sapo frequentaram a mesma pista de skate, competiram em várias cidades e voltaram a se encontrar sob o signo de uma arte que tem o radical esporte como inspiração mater.

UM POUCO DE CADA UM

Além de skatista profissional, Cristian Sapo é carpinteiro e técnico em edificações – começou a trabalhar com arte tridimensional depois de construir rampas e observar o seu impacto visual. Segundo ele, o esporte promoveu a sua aproximação com a madeira e esta o apresentou à arte, que lhe apontou um novo caminho. Materiais descartados e abandonados ganham em suas mãos uma nova utilidade, a estética, que embute uma sensível mensagem de sustentabilidade.

A ideia de um trabalho em conjunto surgiu quando JP Moser estava na Europa, onde expôs suas pinturas na Holanda, Irlanda e Itália. O artista se diz influenciado pelo impressionismo e o surrealismo, contudo, suas obras agregam uma contemporânea visão underground. “Minha pintura tem um sentimento próprio com lugares excêntricos. Procuro mostrar paisagens com referências de onde passei ou gostaria de estar, e mesmo com as onipresentes pistas de skate ela atrai um público diversificado”, avalia.

Desde fevereiro os dois artistas se envolveram em uma parceria que gerou uma arte que circula, que sai da tela, vira uma escultura ou um tênis e depois vai para a rua, na definição de Moser. Eis a Arte Circulante.

Um sofá ramp em forma de melancia; um tênis de skate transformado num moinho holandês; uma esquadria de janela emoldurando uma paisagem… Pintura e escultura dialogam sobre um tema comum: o universo skatista.

ONDE ESTÁ

Arte Circulante – Exposição dos artistas plásticos JP Moser e Cristian Sapo

Espaço colaborativo urbano Acervo Circular, Rua Mateus Leme, 142, Centro Histórico.

Horário de visitação: sexta das 18 às 21 horas; sábado das 15 às 18 horas; e domingo das 11 às 15 horas. A mostra permanece em cartaz até o dia 30 de novembro.