Coisa Nova - Fashion

por Nereide Michel em 16/07/2019

Sob o comando de André Hidalgo, a Casa de Criadores, um dos mais longevos eventos do Brasil, mantém fidelidade com a sua proposta original: dar visibilidade a novos talentos da moda brasileira. Muitos estilistas, hoje consagrados, apresentaram credenciais em suas passarelas. Sem dúvida, um passaporte para conquistar espaço em um competitivo mercado que atende a um consumidor plural em suas preferências.

Duas marcas curitibanas, Reptília e Rocio Canvas, representaram o design de uma cidade de reconhecida vocação para a moda autoral na 45ª edição da Casa de Criadores, que aconteceu de3 a 8 de julho, em São Paulo.

À FRENTE DO SEU TEMPO

A moda autoral, por definição, foge de qualquer enquadramento ditado pelo calendário. Por isso, a estilista Heloisa Strobel, da Reptília, em sua estreia na Casa de Criadores, buscou inspiração em uma mulher considerada “à frente do seu tempo”. A coleção foi batizada com um lembrete “Nunca te esqueças que eu venho dos trópicos” e foi construída sob a égide da trajetória pessoal e profissional da artista mineira Maria Martins, a primeira surrealista brasileira, que conviveu no berço do movimento com Breton e Mondrian, foi amiga de Picasso e musa de Duchamp. Na primeira metade do século XX, suas esculturas, ensaios e pinturas expressavam questionamentos sobre raça, nacionalidade, religião e condições sociais, além de defender que a arte seria uma ferramenta de mobilização para combater guerras.

Segundo Heloisa Strobel,  hoje se faz essencial falar sobre Maria Martins – 2019 assinala  a celebração dos 125 anos do seu nascimento –  reverenciar sua obra e sua história. A artista levou para o mundo uma visão do que é Brasil a partir de uma estética traçada por ela mesma.

Leo Faria

Leo Faria

Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

A coleção segue a estética atemporal e sport chic, valorizando a silhueta e a versatilidade, unindo o estilo contemporâneo com a alfaiataria tradicional. A cartela passeia por tons leves, como o lilás, o cru e o caramelo, deixando espaço também para uma série de looks no soturno preto.

Leo Faria

Os acessórios, inspirados nos processos escultóricos de Maria Martins, têm como proposta traçar novos desafios na criação das joias em resina, encapsulando conchas, sementes e pedras coletadas em diversas viagens pelo Brasil. As peças simulam artigos fossilizados, passando a ideia de preservação das raízes regionais diante da passagem do tempo. As bolsas-caixa em madeira, revestidas com couro, do arquiteto e designer Marcos Novak, também ganharam inserções de resina nas alças, uma referência às caixas de coleta para objetos de pesquisa.

CONFORTO MINIMALISTA

A arte é companheira das coleções assinadas por  Diego Malicheski, da Rocio Canvas. É neste universo que ele imagina uma mulher sem temor de experimentar texturas complexas e ornamentadas, que a envolvem em tecidos fluídos e maleáveis. A modelagem cria volumes, recortes e materiais contrastantes que emolduram o corpo. A opção pela alfaiataria permite ao estilista trabalhar um oversized contemporâneo, funcional e extremamente confortável. Aliás, uma definição da moda da Rocio Canvas.

Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

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