Conecte-se

por Nereide Michel em 15/06/2016

A 36ª coleção de Alexandre Linhares para Heroína, sua marca, foi batizada “O rei está nu”. A referência explícita é o conto A Roupa Nova do Imperador, do dinamarquês Hans Christian Andersen. É sobre um nobre tão vaidoso que não conseguia se imaginar sem estar vestido com os trajes mais esplêndidos do seu reino. Uma ilusão que o cobriu de brocados e bordados mesmo que nada cobrisse a sua pele. E quem ousaria lhe dizer a verdade? Só a inocência de uma criança para a qual a realidade não se apresentava com enfeites, ou melindres, tão usuais entre os adultos. Era para ser dita como tal “nua e crua”.

A partir do que não é visto fisicamente, mas que tem a sua existência concretizada de outra forma, como através de sentimentos, emoções e lembranças, que a concepção do desfile da coleção 36 aconteceu Em uma noite de sexta-feira, dia 13 de maio (já se passaram um mês e dois dias até este texto ser redigido. Hoje é 15 de junho. O real da apresentação não está mais diante dos olhos, mas ela continua vivendo na memória. Qual a imagem mais forte?) O cenário do desfile foi a Casa Hoffmann, no setor histórico de Curitiba, antigo endereço da família, com nome eternizado no prédio que hoje abriga o setor de dança da Fundação Cultural de Curitiba. Lar e loja, nela vendiam-se tecidos finos. Lembranças, muitas lembranças retidas, sem vontade de escapar através de seus janelões do século passado.

Sala escura. A narração de Alexandre Linhares – só ele sabia se o “rei estava vestido ou nu” – conta histórias de quem estaria por dentro das roupas e descrevendo o que eles estariam usando. A platéia “vestia o rei” conforme o poder de sua imaginação. Se nada estava sendo visto cada um ficava livre para preencher a ausência de imagem com seus sentimentos ou ilusões.

Sala iluminada. O rei está nu ou vestido? Nada a responder. Afinal, cada um veste antes o que tem por dentro para depois colocar panos sobre a pele. De outra maneira, ficará sempre nu. Ops, eis uma resposta!

Com as luzes foi possível ver quem vestia o que e o porquê.

Roupas vestindo pessoas e suas histórias. Roupas costuradas com lençóis doados, sacos antigos de café, resíduos da indústria têxtil, cortinas sem mais uso, todos impregnados de lembranças. Nem um milímetro de tecido – usado na confecção das peças – foi desperdiçado, jogado fora. Concretamente e simbolicamente. Gente não é para ser descartada – afinal, cada um veste a sua história, mesmo estando com o corpo nu.

Ajudaram a vestir o rei de Alexandre Linhares:

Oficina da Gasp (sapatos); Linina e Luan Valloto (bolsas), Letícia Utime e Rodrigo Alarcón (joias); Gabrielle Moura (cabelos); Aline Elena (maquiagem). Thifany Faria, parceria sempre lembrada!

ONDE ESTÁ O REI NU

Atelier e loja Heroína de Alexandre Linhares, rua Prudente de Morais, 445. Basta apertar a campainha para entrar.