por Nereide Michel em 27/03/2025
A semana em que festividades acontecem para celebrar os 332 anos de Curitiba também apresenta-se como oportunidade para destacar a contribuição dos mais diversos povos, que fizeram da cidade o seu destino, na formação do cenário cultural da capital dos paranaenses.
O lançamento da Coleção Jamil Snege, que aconteceu na segunda-feira, dia 25 de março, na Biblioteca Pública do Paraná, insere-se neste contexto. A iniciativa da Associação Árabe de Beneficência do Paraná (Saben) consistiu na doação de mais de 400 exemplares de autores árabes que, através dos mais diversos conteúdos e estilos literários, registraram a riqueza da história e das tradições dos países do Oriente Médio. Lembrando que a Saben, fundada em 21 de outubro de 1993, materializou o sonho de três jovens médicos descendentes de imigrantes árabes: Regina Maida Mansur, Rached Hajar Traya e Luiz Widolin. Nasceu com a missão de retribuir a acolhida recebida pelos seus antepassados no Paraná desde o final do século XIX. Com este objetivo a entidade promove ações nas áreas de saúde, educação, filantropia e cultura.

Valterci Santos
A Coleção Jamil Snege, que agora integra o acervo da Biblioteca Pública do Paraná, é composta por mais de 400 livros de escritores árabes, incluindo títulos de paranaenses, como Manoel Karam e Jamil Snege – a dupla participou da cena cultural curitibana que a partir dos anos 70 e 80 sacudiu a cidade com performances, peças de teatro e lançamentos literários. “Como se tornar invisível em Curitiba”, coletânea de crônicas publicadas entre 1997 e 2000, “A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti” e “O Alto da Bronze”, que exploram narrativas urbanas com um olhar afiado sobre a sociedade, estão entre as obras de Snege incluídas na seleção da Saben com a proposta de reforçar a importância de valorizar autores locais.
Na estante árabe da Biblioteca Pública do Paraná podem ser encontradas outras obras de destaque como “A Revolução Argelina”, de Mustafa Yazbek, que oferece uma visão detalhada sobre a luta pela independência da Argélia, “Rhadopis, a Cortesã”, do premiado escritor egípcio Nagib Mahfuz, um romance que transporta o leitor para o Egito Antigo, “Menina a Caminho”, de Raduan Nassar, que apresenta uma narrativa sensível e intensa sobre a infância e suas descobertas e “No País dos Homens”, de Hisham Matar, um relato emocionante sobre a Líbia sob o regime de Kadafi.
Uma diversidade de publicações que proporciona ao público uma oportunidade única de conhecer mais sobre uma rica tradição literária aproximando os leitores da cultura árabe em um ambiente de aprendizado e troca de conhecimentos. “A doação da Saben à Biblioteca Pública do Paraná reflete um princípio que sempre defendemos: a retribuição ao acolhimento dado aos imigrantes de origem árabe que aqui chegaram e fizeram deste país seu lar. Eles trabalharam, prosperaram e, hoje, seus filhos, netos e bisnetos são brasileiros, mas preservam com orgulho a memória de seus antepassados”, enfatiza a presidente do Conselho de Senhoras da Saben, Vera Maria Mussi Augusto.

Valterci Santos
A solenidade que marcou a doação dos livros à Biblioteca Pública do Paraná contou com a presença da Secretária Estadual de Cultura, Luciana Casagrande Pereira, e a participação do escritor e professor Marcelo Maluf, autor de obras premiadas como “A imensidão íntima dos carneiros”, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. Com uma escrita sensível e envolvente, suas histórias exploram temas como memória, identidade e ancestralidade, muitas vezes inspiradas em suas raízes libanesas, ressaltando a importância da literatura como ferramenta de expressão e conexão com a própria história. Conteúdo, aliás, da palestra por ele proferida no evento.