Conecte-se

por Nereide Michel em 04/10/2019

Duas personagens se encontraram para registrar em papel histórias que a vida trouxe e sonhos que a imaginação criou. O papel, aliás, é onipresente no cotidiano delas. Efigênia Ramos Rolim tem um título de nobreza – Rainha do Papel – homenagem merecida por quem mirou, com sensibilidade, para o potencial artístico de papéis de bala jogados no lixo. Deles, ela gerou suas primeiras obras – pequenas esculturas, peças de adorno (da alma), algo para impactar pela singeleza, presente no dia a dia, mas ignorada pela maioria. Adélia Maria Lopes é assinatura em papel jornal que testemunha uma longa e marcante carreira no jornalismo cultural curitibano. Dos tempos da impressora, com prazo de validade para os dias atuais, segue mais além. Como comprova o livro que ela está lançando “Contos de fada Efigênia”, reunindo histórias contadas, com graça performática, pela artesã e poeta Efigênia Rolim.

Papel conta a história de Efigênia e Adélia.

PALAVRAS CONTADAS

 Adélia Lopes assumiu e realizou a missão de reunir em um livro uma das facetas da arte de Efigênia Rolim. Com muita dedicação (o projeto levou três anos para ser concretizado devido a problemas de saúde da contadora de histórias), a jornalista ouviu, gravou e pesquisou as narrativas poéticas  – Sonhos? Vivências?  –  de quem chegou aos 88 anos sem se perder da criança com futuro confundido com esperança. Pobreza, velhice, morte, amor, amizade e proteção da natureza foram suas inspirações materializadas em heróis, mocinhas, gente do povo, seres fantásticos. Eles agora ganham vida novamente em 21 historietas que compõem o “Contos de fada Efigênia”, que deixa gravada em suas páginas uma importante manifestação cultural – a tradição oral. Dona desta  preciosidade, Efigênia conta suas histórias, desde 1993, em salas de aula, feiras, festivais e em diversos encontros culturais pelo país – ela guarda com carinho e orgulho a medalha de mérito cultural do Ministério da Cultura pelo conjunto de sua obra em papel de bala e sucata.

Por ser representante de  uma manifestação cultural, considerada frágil do ponto de vista da preservação, esta artista naif, autêntica e original preocupou-se em deixá-la com “futuro garantido”. Apresentou, então, projeto editorial para a Fundação Cultural de Curitiba, que aprovado obteve apoio da Caixa Econômica Federal.

HISTÓRIAS DO LIVRO

Nascida em Minas Gerais, radicada em Curitiba desde 1971 e atualmente moradora de Itapoá, em Santa Catarina, Efigênia Rolim teve dia e hora marcados para reencontrar-se com as suas histórias: sábado, 5 de outubro, das 10h às 12h30. Data do lançamento do “Contos de fada Efigênia”. O local não poderia ser mais apropriado: a Biblioteca Pública do Paraná”, guardiã das obras escritas. Dia de festa comemorado com jujubas, o doce colorido que se desmancha na boca. Afinal,  a celebração era para a  “Rainha do Papel” –  papel que revestia balas, que ela revestiu de arte.

Foto: Gazeta do Povo

Como destaca Adélia Lopes, “Efigênia Rolim personifica dois brasis: a vocação de Minas Gerais pelas lendas e histórias, música e artesanato e, ao mesmo tempo, a aptidão curitibana pela sustentabilidade e poesia”.

Vinte e uma histórias ganharam criativas ilustrações da artista Katia Horn – que, com sensibilidade, utilizou nelas papéis de bala, galhos, jornais velhos, que fazem parte do universo da artesã –  e caprichado projeto gráfico de Adriana Alegria. O livro inclui também uma foto clássica de Efigênia, feita em estúdio por Vilma Slomp. Uma obra de arte completada por um lúdico encarte que guarda dentro de si nove postais, que convidam as crianças a recortar, desenhar e deixar a imaginação à solta, além do livrinho de poesia “Pássaros se beijando”, todos da contadora de história.

O artista plástico Hélio Leites, que deu mais asas para Efigênia voar, ao conhecê-la com seus bonequinhos de papel de bala pelas ruas da cidade, no início dos anos 1990, fará a contrapartida do projeto, realizando oficinas com alunos das escolas municipais. As crianças já estão “brincando” com o livro na rede de bibliotecas da Fundação Cultural de Curitiba. Exemplares também estão à disposição dos leitores na Seção Infantil, da BPP. Ao fazer a entrega de exemplares para o acervo infantil, Adélia Lopes solicitou à Ilana Lerner Hoffmann, diretora da BPP, a possibilidade de transcrição em braille de alguns contos.

CONTOS DE UMA FADA

 

 

 

 

 

 

 

 

 Projeto do livro: Cultural Office, aprovado pela Lei Municipal de Cultura. Apoio de edição: Caixa Econômica Cultural.