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por Nereide Michel em 07/01/2021

João Turin fez parte de um grupo de artistas curitibanos que buscava através de suas obras imprimir uma identidade paranaense ao que era produzido no estado. Paralelamente seus integrantes, entre os quais estavam os pintores Lange de Morretes e João Ghelfi, tinham como objetivo estimular o orgulho da população pela cultura local e gerar um símbolo para marcar a sua difusão, que fosse reconhecido em outras paragens. O  pinheiro, árvore-símbolo do Paraná, ganhou status de representante desta manifestação paranista e serviu de fonte para a criação de diversas obras de arte e peças decorativas.

Um movimento cujos objetivos crescem em importância à medida que a globalização, desconhecendo fronteiras, pode impetuosamente apagar expressões artísticas regionais, tradições e saberes populares. Daí a necessidade premente de iniciativas com foco na preservação das heranças culturais de uma cidade e de um país. Dentro deste contexto no dia da Emancipação do Paraná, 19 de dezembro, ganhou forma e conteúdo o Memorial  Paranista João Turin, entregue simbolicamente pelo prefeito Rafael Greca. A inauguração oficial de todo o complexo está agendada para 29 de março de 2021, no aniversário de Curitiba. O espaço está integrado às atrações do Parque São Lourenço, também revitalizado, e deverá expor 78 esculturas, doadas em regime de comodato para o município pelo Governo do Estado do Paraná e pelos detentores dos direitos autorais do acervo, a SSTP Investimentos Ltda, da Família Lago.

Maringas Maciel

A impressionante escultura Marumbi com os seu 3 metros de altura, quase 3 metros de largura, 1 metro de profundidade e aproximadamente 700 kg, destaca-se no cenário do complexo.

Um dos principais atrativos do Memorial Paranista João Turin, o Jardim das Esculturas, que ocupa mais de 8 mil m², vai contar com 12 obras de bronze de Turin, em grandes proporções, adquiridas pelo Governo Municipal: Índio Guairacá II, Homem Pinheiro, Marumbi, Pedagogia, Índio Guairacá I, Caridade, Onça Brincando com Filhote, Onças Brincando, Onça Espreita II, Fundação de Curitiba, Onça Espreita I e Onça Descansando. Além das esculturas ampliadas em proporções heroicas (equivalentes a duas vezes e meia a medida de um homem), o espaço ganhou elementos de paisagismo da arquitetura paranista e fontes de água. A proposta é transformar o Parque São Lourenço em um grande centro de artes a céu aberto.

Pedro Ribas/SMCS

Instalação da obra, de inspiração indigenista, Guairacá II.  Com 400 quilos e 3 metros de altura,  fica na entrada principal do memorial, que fica na Rua Nilo Brandão.

O arquiteto Guilherme Klock, do IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, órgão ligado à Prefeitura Municipal da cidade, que assina o projeto do Memorial Paranista João Turin, define o espaço ” como uma grande galeria em aço e vidro translúcido, que pede licença ao conjunto existente para conduzir a uma nova experiência e produzir uma sinergia capaz de organizar os ambientes, distribuir as funções, orientar os visitantes e conduzir às artes da fundição, para compreender nossos maiores mestres nas artes da proporção, modelagem e técnica”.

Pedro Ribas/SMCS

A fachada da casa paranista, obra e residência de João Turin, está reproduzida no complexo. Um exemplo arquitetônico do movimento, cujo original foi demolido pelo “apetite” imobiliário.

Todo o complexo cultural  inclui teatro, galeria de arte, ateliês de escultura e cerâmica, biblioteca, memorial dos fundadores da Escola de Belas Artes do Paraná e capela votiva às vítimas de covid-19 com a Pietá de João Turin.

APOIO AOS ESCULTORES

A SSTP Investimentos Ltda também vai doar uma fundição elétrica, segura, moderna e ambientalmente correta, em substituição à existente no local, que está obsoleta. Uma iniciativa que “vai propiciar aos novos artistas meios para fundir suas peças, estimulando e ajudando o desenvolvimento da arte escultórica paranaense. Acreditamos que seria o que João Turin gostaria de ver, pois ele mesmo teve imensa dificuldade em fundir suas peças à sua época, deixando muitas obras inéditas”, segundo Samuel Lago, da empresa doadora.

SUCESSO DE CRÍTICA E DE PÚBLICO

Obra Luar do Sertão. Foto: Maringas Maciel/Divulgação MON

Celebrado mais como escultor, João Turin também produziu desenhos, pinturas, design de moda e criações arquitetônicas com sua arte – são 410 obras catalogadas. Uma versatilidade conferida por 266 mil pessoas que estiveram na exposição “João Turin – Vida, Obra, Arte”, a mais visitada da história do Museu Oscar Niemeyer. Sucesso de público que levou a mostra a ser incluída no ranking anual das exposições mais visitadas no mundo, no ano de 2014, realizado pela revista inglesa especializada The Art Newspaper. Esta exposição também teve uma versão condensada, exibida em 2015 no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e na Pinacoteca de São Paulo.

 

PARANISMO NA MODA

João Turin buscou na árvore símbolo do Paraná referências para desenhar trajes e acessórios – vestidos, chapéu, bolsa e sombrinha – inspirados na forma e na textura do pinheiro e do pinhão. Iniciativa que o credencia como precursor do Design de Moda com identidade paranaense, o que motivou o lançamento do”Prêmio João Turin de Incentivo aos Novos Designers de Moda”, destinado a estudantes de cursos de moda de todo o Paraná. Com o  objetivo incentivar a inspiração em temas da cultura paranaense no desenvolvimento de coleções de roupas e acessórios, em suas 10 edições o concurso já revelou vários talentos como Francesca Córdova e Luan Valloto.

Divulgação

Looks comercial e conceitual vencedores do X Prêmio João Turin de Incentivo aos Novos Designers de Moda. O autor, Carlos Almeida, inspirou-se na música “Gralha Azul”do folclorista Inami Custódio Pinto.