por Nereide Michel em 17/12/2024
Impacto que gera conscientização. Conscientização que motiva o registro de cenas de uma cena cultural. O fatalmente perecível ganha sobrevida – ou perenidade – quando as páginas de um livro materializam desejos, anseios e expectativas.
“Meu trabalho tem como missão combater a minha própria ignorância. Utilizando o que tenho e cada vez mais junto de pessoas que querem ver a cena cultural curitibana forte, apresento este meu complexo labirinto, que identifica o que hoje parece ser sistematicamente apagado: nossa memória coletiva e local. Nossos grandes feitos, as marcas que definem o canto da nossa aldeia”. Assim o músico e pesquisador Asaph Eleutério justifica o seu empenho para gerar o livro “Cena de Cenas – Do Rock De Inverno aos Ìndios Eletrônicos”. Resultado do Mestrado desenvolvido em 2021, pela UNESPAR, o projeto levou o autor a um mergulho na cena musical curitibana dos anos 2000, especificamente aquela que teve na produtora De Inverno Records o seu principal grupo de atores, ou agentes.
A partir das bandas OAEOZ, Poléxia, Criaturas, ruído/mm, Lorena Foi Embora e Terminal Guadalupe, formações musicais que nascem em meio ao movimento cultural do início da década de 90 do século passado, o Eleutério traça “a característica que melhor definiu o emaranhado de práticas musicais presentes naquele recorte”, que se inicia com a realização da primeira edição do Festival Rock De Inverno, no Circus Bar, em junho de 2000.
Eleutério lembra que “a revolução digital a pleno vapor foi amplamente explorada por todos estes grupos. A redução das produções fonográficas, a presença da língua portuguesa (ou de linguagem não-verbal, como no caso da ruído/mm), a forte influência vinda do jornalismo cultural dos anos 90 no terreno digital e a presença do feminino foram elementos que se destacaram durante minhas investigações sobre a obra daquela cena”.
A publicação do livro foi viabilizada por incentivo de edital da Funarte e terá sua primeira edição toda distribuída gratuitamente. Exemplares também serão enviados para jornalistas locais e nacionais, além de para bibliotecas e para acervos de instituições de pesquisa.
O lançamento do “Cena de Cenas – Do Rock De Inverno aos Índios Eletrônicos” tem dia, hora e local: 19 de dezembro, quinta-feira, 16h30, Livraria Telearanha, Rua Ébano Pereira, 269, Curitiba.
“Poemas de Plástico”, novo livro de poesia de Pedro Tancini, vai além da abstração e se torna a primeira obra de literatura do mundo produzida inteiramente com plástico reciclado e reciclável. As páginas são impressas em um papel sintético com as mesmas propriedades do papel de celulose, feito principalmente de tampinhas de garrafa PET coletadas por catadores. Já as capas de cada exemplar são personalizadas pelo próprio autor, com colagem de pedaços de plástico que ele retirou das praias do estado de São Paulo.
O projeto se baseia na contradição do plástico no mundo contemporâneo: ao mesmo tempo que é um material tão descartável, leva mais de quatrocentos anos para se decompor na natureza. É esse paradoxo que conecta os poemas, sejam os que denunciam a descartabilidade de tudo, inclusive do amor, na sociedade capitalista, sejam os que procuram um futuro diferente do fim para o qual o mundo está se encaminhando.
Em meio a versos que desbravam as margens da folha e desafiam as estruturas padrões de um trabalho poético, o livro em si é a tentativa de se fazer durar em uma realidade onde tudo parece inútil. A grande ironia é que, para fazer isso, Pedro Tancini utiliza o plástico, material que é produzido e descartado de forma irrestrita.
“Poemas de Plástico” tem o apoio do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas. À venda na Amazon
“Deztroços”, obra escrita e ilustrada pelo premiado autor Nelson Cruz, traz um conceito singular: compõem o livro, fotografias de vinte livros-objeto tridimensionais, cada um com capa, contracapa e miolo. São objetos geralmente descartados, transformados em arte que explora a materialidade e a estética dos resíduos. Cada peça é única, criada com elementos variados, como embalagens, latas, madeira e outros materiais, que ganham nova vida nas mãos do artista.
A ideia do livro, editado pela Maralto, surgiu há dois anos, quando Nelson Cruz refletia sobre o impacto ambiental do consumo e o acúmulo de objetos e embalagens, especialmente dos relacionados às compras on-line. Inspirado pelos poemas de Torquato Neto, ele começou a explorar a técnica de assemblage, criando composições que capturam as texturas, linhas e cores ao seu redor. Esses objetos foram concebidos como pequenas obras de arte para exposições. Cada peça lembra um livro, embora sem o conteúdo textual convencional; suas capas se abrem e fecham, revelando no interior uma composição de objetos, criando uma narrativa visual única.
A inusitada obra impressiona pela qualidade estética: uma edição de capa dura, com páginas em papel couchê fosco e verniz de reserva no título da capa. Cada imagem é acompanhada por notas de rodapé que especificam detalhadamente os materiais usados na composição. O livro inicia-se com o “Objeto 1”, uma combinação artesanal de peças em leque, papel artesanal, espinha de peixe, parafusos e madeira sobre papelão Paraná, introduzindo a originalidade que permeia toda a obra.
“Deztroços” teve lançamento em Curitiba, em novembro, na Livraria Arte e Letra, com a presença de Nelson Cruz.
Vendas: https://loja.maralto.com.br