por Nereide Michel em 03/12/2024
A história dos vinhos tem capítulos surpreendentes. A arte embutida na sua fabricação encontra similitude em quem sabe apreciar a bebida ciente dos detalhes inseridos na sua elaboração – reconhece estar diante de um produto que, muitas vezes, levou décadas para estar no ponto de ser degustado. A brasileira Miolo Wine Group tem no seu portfólio um espumante ao qual não faltam predicados diante da excentricidade que cerca a sua trajetória – do engarrafamento à sua apresentação ao mercado. O Miolo Cuvée Under the Sea, fazendo juz ao seu nome, passou uma longa temporada imerso nas profundezas do mar antes de receber sinal verde para ser aberto.
A SUA HISTÓRIA
Em 2016, a Miolo Wine Group alcançava a marca de exportação de 100 mil garrafas do Miolo Cuvée, sendo que 10 mil foram vendidas somente na Soif D’ailleurs, em Paris. Para comemorar, a vinícola brasileira resolveu imergir um lote de 504 garrafas na Europa, resgatando uma prática comum no continente que nasceu de tesouros encontrados nas profundezas do mar em navios naufragados. O ponto escolhido foi o mar da Província de Bretagne, na França. Inusitada, a operação brindou a presença do espumante brasileiro no mundo, gerando mistério em torno das características sensoriais da bebida. A curiosidade se espalhou entre sommeliers e colecionadores de relíquias e a garrafa, protegida por uma embalagem especial, que retrata uma lente de farol, ganhou status de exclusividade – quem deseja degustar o seu conteúdo deve desembolsar nada mais, nada menos que R$ 3.500.
Steven Spurrier, o homem do “Julgamento de Paris” (1976) conduziu a degustação do Miolo Cuvée na Embaixada do Brasil em Paris, em 2016, marcando as comemorações do feito da Miolo. Estrategicamente mergulhadas na ilha de Ouessant, na região conhecida como Baie du Stiff, as garrafas ficaram envelhecendo na cave submarina de outubro de 2016 a novembro de 2017, quando foram içadas. De lá para cá, o lote fez o caminho de volta para casa, permanecendo na cave subterrânea da Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos, até completar 10 anos – a tiragem é de 2014.
Toda operação em alto mar foi conduzida pela Amphoris, empresa francesa especializada neste trabalho e que reúne as melhores condições para garantir o funcionamento perfeito da adega subaquática abaixo dos limites do mergulho livre humano, além dos 60 metros de profundidade com batimetria comprovada. As garrafas foram mantidas em escuridão total, temperatura constante e plena segurança diante de correntes oceânicas moderadas, sem conflito com atividades offshore (alto-mar).
Para o enólogo Adriano Miolo, Diretor Superintendente da Miolo Wine Group, apreciar um Miolo Cuvée Under de Sea é uma experiência única que vai além do ritual usual de degustação. Ele pretende manter o espumante em seu portfólio, ampliando e agregando valor à linha, primeira de espumantes lançada pela Miolo em 1995. O desejo pelo produto já garante outros dois lotes que foram imersos no mesmo local: um de apenas 140 garrafas de brut rosé, também de 2014, e outro de 350 unidades, de 2016.
Após 10 anos submerso no mar da França, Miolo Cuvée – Under The Sea chega ao mercado. Ele vem apresentado em uma embalagem desenvolvida exclusivamente para o produto, reproduzindo a lente de um farol marítimo que protege a garrafa sem escondê-la. Junto, um mapa que identifica o local exato onde o espumante permaneceu em repouso.