Coisas Novas

por Nereide Michel em 20/12/2023

Pode parecer estranho aos olhos contemporâneos dos anos 2000. Mas o nome design, cuja definição identifica a união da funcionalidade com a estética, nasceu na chamada era moderna, há uns três séculos. A intenção era destacar objetos que apresentavam diferenciais contrastantes com os “comuns ” da época. Consequência de uma  preocupação que se espalhou entre os profissionais da área com a produção em massa e a mecanização advinda da Revolução Industrial diante da possibilidade concreta de padronização do que era ofertado no mercado. O acelerado ritmo das máquinas sufocava a criatividade deixando de lado, por exemplo, o apelo artesanal na  elaboração de objetos para casa. Uma reação que fermentou a atuação de designers – no decorrer das décadas e através de diversificadas formas de expressão – gerando a dinamização de um segmento valorizado pela assinatura de peças autorais. Ontem, hoje e no futuro o design cumpre o seu papel personalizando ambientes residenciais e comerciais com o seu toque criativo sem se desprender do utilitário.

Uma mostra realizada no dia 9 de dezembro, no Museu Oscar Niemeyer, com curadoria da Agência de Eventos Ôda, da empresária Ticiana Martinez, que também comanda a Ôda Design, direcionou holofotes à produção de um selecionado grupo de profissionais diferenciados pela edição limitada de suas peças. Um zoom no cenário atual do design brasileiro uma vez que dele participaram mais de 20 representantes do setor vindos de várias regiões do país – cada um com o seu peculiar modo de fazer parte do nosso cotidiano ou da “construção da vida”, temática da exposição.

INSPIRAÇÕES E EXPRESSÕES

Nos trabalhos de alguns dos participantes do evento “Ôda: a vida que queremos construir” destacam-se exemplos da diversidade de inspiração e de material que caracteriza o design brasileiro, que, aliás, já conquistou muitos prêmios internacionais pela sua criatividade e originalidade.

Do Studio Pedro Leal um trabalho que flutua entre o design, ofício comum da marca, e a arte. O uso da madeira de demolição, uma constante nas suas peças, conduz a questionamentos. Os antigos casarões do Rio de Janeiro, ex-capital do império, ofereceram a matéria-prima para um conjunto de três totens feitos com vigas de madeira Pinho de Riga centenárias, oriundas de um imóvel de 1888, o mesmo ano da assinatura da Lei Áurea.

A coleção “Sustentáculos”, da Spiral Cerâmicas,  o mais recente trabalho da artista Cristina Odebrecht, representa um mergulho na dominação técnica da esmaltação e da delicadeza dos vidrados aplicados sobre a cerâmica. Vasos e esculturas em cerâmica, modelados em massas branca e preta na técnica de acordelado, revelam uma riqueza de texturas, cores e acabamentos singulares.  Cada peça evoca a natureza, seja na sugestão de formas orgânicas ou na elegância intrínseca das linhas.

Anima é alma em latim. Nome escolhido por Leandro Fragoso, Sharon Abdalla e Welison Santos para batizar o seu estúdio de design. A proposta deles é “acrescentar mais alma à vida das pessoas por meio de móveis e objetos de decoração”. O Banco Mangue se insere perfeitamente no conceito do Anima Studio de Design: a inspiração veio dos manguezais tão presentes nas paisagens brasileiras. Os pés em aço carbono reproduzem as formas das raízes escoras, oferecendo estabilidade ao assento em freijó. Em tom de cobre, chamam a atenção para as formas características do ecossistema costeiro, fonte de renda e sustento de famílias brasileiras em risco de extinção devido à poluição e ao descaso com as premências do meio ambiente.

O artista visual e designer têxtil Alex Rocca mergulha, através de esculturas têxteis, em suas raízes ancestrais para criar a série artística que remete à rica história dos povos africanos e de suas artísticas criações têxteis, muitas vezes intrinsicamente ligadas às suas práticas religiosas. Esculturas artisticamente elaboradas a partir de tecidos em fibras naturais, como o algodão e a seda, em contraste com fios metálicos em cobre e latão permitem a exploração de diferentes técnicas e abordagens proporcionando estrutura, maleabilidade, textura e sustentação. Nas cores minerais do branco e preto, as obras apresentam formas orgânicas, volumes flexíveis e efeitos tridimensionais que adicionam profundidade e impacto ao trabalho.

As artes do crochê passaram das roupas para peças funcionais e decorativas pelas mãos da estilista Francesca Córdova. Para ela, reavivar saberes manuais e culturais e trazê-los para o contemporâneo são princípios aplicados em sua atuação, tanto na  moda como no design de objetos. E eles vão à mesa na beleza de formas orgânicas e naturais, inspiradas em verduras e vegetais. Tons de verde foram os escolhidos para compor essa experimentação monocromática. Cachepôs, toalhas de mesa, cestos e vasos convidam à celebração do “estar junto”.