Linkultura

por Nereide Michel em 22/12/2020

Erva-mate, antes do boom cafeeiro, foi um dos ciclos mais importantes da economia paranaense. Tanto que um ramo dela está na bandeira do Estado. A riqueza que produziu, na virada do século XX, se refletiu no cenário cultural e arquitetônico de Curitiba. Os ervateiros, residentes na capital, começaram a erguer verdadeiros palacetes para lhes servir de moradia. Algumas destas vistosas construções fazem parte hoje do roteiro artístico da cidade como o Palacete dos Leões e o Solar do Barão.

Para destacar a importância deste pujante período o Museu Paranaense está ativando o projeto  Circuito Ampliado – Acervos em Circulação com a exposição Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta, que propõe diferentes olhares sobre obras, objetos e documentos históricos relacionados à erva-mate, que fazem parte do seu acervo. A mostra será aberta ao público no início de 2021, assim que o funcionamento do museu for restabelecido. Até lá, o público poderá ter contato com as obras e o conceito da exposição por meio de atividades online no site e nas redes sociais da instituição.

Neste projeto, o Circuito Ampliado incluirá exposições em dois locais. Além do Museu Paranaense, o Palacete dos Leões, sede do Espaço Cultural do BRDE no Paraná, receberá a mostra Narrativas e Poéticas do Mate também prevista para o início do ano.  Contando com a  parceria do Museu Oscar Niemeyer a ação terá vigência até 2022.

ATRAÇÕES

A exposição montada no MUPA tem como perspectiva os saberes e usos dos povos indígenas do Sul sobre a erva-mate, seus primeiros locais de cultivo: as florestas, o manejo e beneficiamento da planta por pequenos produtores e aspectos ligados à representação científica e artística da erva-mate e da natureza registrados por viajantes estrangeiros e colonizadores.

Fotopintura Familia Kanhgág, 1903. Acervo Museu Paranaense. Autoria desconhecida

Um amplo conjunto de fotografias, peças tridimensionais, reproduções do álbum Voyage pittoresque et historique au Brésil, de Jean Baptist Debret, bem como a emblemática fotopintura Família Kanhgág, datada de 1903, especialmente restaurada  para fazer parte do circuito, podem ser conhecidas pelos visitantes. Dentre as dezenas de peças do acervo do MUPA, a exposição contará ainda com um trabalho do artista indígena wapichana Gustavo Caboco. De maneira poética, ele propõe uma atualização da história indígena ligada à erva-mate, questionando o lugar dos saberes dos povos originários em contraposição à história “oficializada” pelas instituições museológicas. A obra comissionada fará parte do acervo da instituição.  “Entendemos que desta forma reforçamos o diálogo com as comunidades que representam os temas abordados, trazendo uma reflexão sobre o papel do museu na sociedade”, afirma a diretora do Museu, Gabriela Bettega.

Gustavo Caboco trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra indígena Canauanim. Sua pesquisa é produzida nos encontros com os parentes e é apresentada através de desenhos, bordados, textos, vídeos, murais, performances e objetos. O artista já participou de importantes exposições como VaiVém, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Atualmente integra a exposição Véxoa: Nós Sabemos, na Pinacoteca de São Paulo, além de ser presença confirmada na 34a Bienal de São Paulo, em 2021.

Junto com as peças do acervo e a obra de Caboco, faz parte da mostra Eu Memória, Eu Floresta a obra Tapeaba (2013), de Caio Reisewitz. A fotografia de Reisewitz promove o tensionamento entre o natural e o artificial a partir da representação da floresta. Mestre em poéticas, é considerado um dos profissionais mais importantes de sua geração, no campo das artes visuais. Ganhador de diversos prêmios já expôs na 51ª Bienal de Veneza, 26ª Bienal de São Paulo e na Nanjin Biennale (China). 

EM CARTAZ

Monographie du mate, 1856. Litografia. Acervo Museu Paranaense.

Circuito Ampliado – Acervos em Circulação

Mostra Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta

Lei de Incentivo à Cultura

Museu de Arte Paranaense , Rua Kellers, 289, Alto São Francisco, Curitiba 

A partir de janeiro de 2021

www.museuparanaense.pr.gov.br

facebook.com/museuparanaense

@museuparanaense