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por Nereide Michel em 21/10/2021

“-Você conhece Stelinha Egg?” Uma pergunta que infelizmente vai ter como resposta um “Não” majoritário justamente na cidade onde nasceu e revelou o seu talento uma cantora, premiada em outros estados e aplaudida em outros países. Claro que justificativas existem para atenuar esta ignorância principalmente entre as novas e novíssimas gerações, que não tiveram a oportunidade de acompanhar a sua carreira – ela conquistou os palcos brasileiros nas décadas de 40, 50 e 60. Por isso, são meritórias as iniciativas que mantenham vivo o brilho de uma estrela paranaense da música popular brasileira, cuja trajetória não pode ficar escondida em museus ou acervos particulares.

O baião “Gaúcha Sou”, no lado A, de Stelinha Egg e Glauco Saraiva, e “Valsinha da Praia (Fritz)”, no lado B, composição da cantora, interpretados com orquestra pela artista curitibana. O disco, gravado nos estúdios da RCA Victor, na Gávea, no Rio de Janeiro, foi adquirido na  Casa Televisão, que ficava na Carlos de Carvalho, nº5, esquina com Ermelino de Leão. Pura nostalgia. Acervo: Ricardo Michel.

UM PALCO PARA A ESTRELA

Rodrigo Browne, um carioca que adotou-se curitibano, tem vocação para manter em alto e bom som o trabalho de compositores e intérpretes, que pautam a história dos acordes e ritmos de uma cultura destacada pela sua diversidade musical. O jornalista comanda na Rádio Educativa do Paraná há 25 anos o programa “Samba de Bamba” com o objetivo de resgatar a atemporalidade dos sucessos da MPB. Uma proposta que, além das antenas do rádio, ganhou plateia no projeto Caixa Cultural.

A sua intimidade com a memória afetiva, embalada por trilhas sonoras, lhe proporcionou encontros especiais como a apresentação ao prolixo repertório da curitibana Stelinha Egg, que teve como fio condutor outro jornalista Tiomkin – quando os dois profissionais trabalhavam na Secretaria Estadual de Cultura. Deste amor à primeira vista pela obra da cantora surgiu a ideia de montar um espetáculo com as preciosidades que estavam guardadas no baú do Museu da Imagem e do Som, tarefa que coube ao Tiokim. A emotiva homenagem aconteceu em  2010 no palco do Guairinha, decorado com roupas e acessórios da estrela.

Bárbara Magalhães

Rodrigo Browne e a missão de resgatar e divulgar clássicos da MPB.

UM VÍDEO PARA A ESTRELA

Um tesouro – o retorno em 2010 da estrela ao palco através das vozes de cantoras paranaenses – não poderia voltar à arca da memória. Dez anos depois, Rodrigo Browne retomou o projeto e o transformou em um vídeo, lançado no Youtube com a participação de quase todo o elenco da apresentação no Guairinha. Afinal, já não era tempo das novas e novíssimas gerações, tão afeitas às mídias digitais, conhecer a arte da curitibana Stelinha Egg.

O vídeo  “Tributo à Stelinha Egg: A grande Cantora do Paraná”, com direção de Rodrigo Browne e direção musical de Sérgio Justen, estreou no canal do projeto no Youtube  no dia da tripla comemoração – Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Descobrimento da América e das Crianças. 12 de outubro – data agora de quádrupla celebração. A apresentação musical, com 75 minutos de duração, pontilhada por depoimentos da artista, gravados em uma entrevista dada ao jornalista Aramis Millarch, tem como cenário  a Sala Marita França, na Casa Heitor Stockler França. A gravação aconteceu em agosto de 2021.

As Stelinhas do Tributo e o diretor musical do projeto, Sérgio Justen. Repertório afinado com a diversidade musical da estrela.

Seis cantoras paranaenses, como Stelinha, assumiram a responsabilidade de contar, através de canções imortalizadas pela artista, a sua trajetória de sucesso: Cris Lemos, Edith de Camargo, Helena Bel, Lais Mann, Margareth Makiolke e Rogéria Holtz, acompanhadas pelos músicos Sérgio Justen (piano), Marcelo Pereira (baixo), Valmir Pegas (bateria) e Marina de Camargo (acordeão). 

A apresentação dividida em vários momentos musicais da estrela, se traduz num repertório elegante e sem concessões. “Stelinha cantou aquilo que gostava de ouvir. Seu repertório sempre foi fruto de uma intensa pesquisa da música brasileira com temas regionais, canções infantis, modas de viola, modinhas e toadas que vão desde o tradicional cancioneiro brasileiro até compositores contemporâneos, além de um vasto repertório de canções de Dorival Caymmi. O que unia esse repertório tão eclético foi a marca pessoal que Stelinha imprimia em suas interpretações e que a tornou a grande cantora do Paraná”, avalia Rodrigo Browne.

O pianista Sérgio Justen, diretor musical do projeto, lembra que o tributo coincide com três décadas de ausência de Stelinha Egg , que faleceu em 1991. Segundo ele, “a importância de revelar ao público um pouco mais da  personalidade de uma cantora que durante sua trajetória artística e pessoal sempre se mostrou uma mulher avant garde, que conheceu o mundo com sua voz e, curiosamente, nunca teve sua carreira reconhecida no Paraná”.  Uma injustiça histórica que Justen, ao lado da poeta Etel Frota, roteirista do Tributo, procuraram reparar compondo  o tema “Stelinha”, uma homenagem musical que encerra o vídeo de forma emocionante.

STELA=ESTRELA

Imagem cedida pelo MIS- Museu da Imagem e do Som

Stela é uma variante da palavra latina Stella, que significa Estrela. O destino da cantora já estava escrito nas estrelas.

Stellinha ou Stelinha, a artista ficou conhecida pelas duas formas de grafar o seu nome, nasceu em Curitiba em  1914. Cresceu recebendo a influência do ambiente musical existente em sua família e com cinco anos começou a cantar em festas da Igreja Evangélica. Sua carreira profissional se iniciou na Rádio Clube Paranaense, em Curitiba. Venceu um concurso de melhor intérprete do folclore brasileiro e foi contratada a partir daí pela Rádio Tupi de São Paulo, para onde transferiu-se logo depois. Na capital paulista trabalhou nas Rádios São Paulo e Cultura. No início da década de 40, transferiu-se para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro, onde apresentou-se ao lado de Dorival Caymmi e Sílvio Caldas. Em 1944, gravou seu primeiro disco, pela gravadora Continental, interpretando a toada “Uma lua no céu… outra lua no mar” (Jorge Tavares e Alaíde Tavares), e o coco “Tapioquinha de coco” (Jorge Tavares e Amirton Valim).

Em 1945, casou-se com o maestro Lindolfo Gaya, que conhecera na Rádio Tupi, de São Paulo, e que a partir daí trabalharia nos arranjos de suas músicas entre elas o samba canção “Terra seca” (Ary Barroso) e o baião “Catolé” (Humberto Teixeira e Lauro Maia). Em 1950 foi eleita a Melhor Cantora Folclórica no Congresso Internacional de Folclore, em Araxá, Minas Gerais

Em 1952, gravou a rancheira “Toca sanfoneiro”, dela e Luiz Gonzaga, e a canção “Luar do sertão”, de Catulo da Paixão Cearense. Em 1953, começou a gravar obras de Dorival Caymmi como as canções “O mar”, “O vento”, o samba canção “Nunca mais” e ainda os batuques “Noite de temporal” e “A lenda do Abaeté”.

Entre 1955 e 1956 excursionou à Europa, apresentando-se na URSS, França, Polônia, Finlândia, Itália e Portugal, acompanhada do maestro Lindolfo Gaya.

Dedicada ao estudo e pesquisa do folclore brasileiro, gravou diversas composições de domínio público, com elepês dedicados a distintos aspectos da música popular e folclórica, entre os quais: “Modas e modinhas”, com modas de viola e modinhas, antigas e modernas; “Vamos todos cirandar”, com canções de roda; e “Músicas do nosso Brasil”, com canções tradicionais brasileiras.

EM CARTAZ

“Tributo à Stelinha Egg: A Grande Cantora do Paraná”

No canal do youtube do projeto: https://www.youtube.com/channel/UCCDW9ZfRVilldrIuZZPiWuQ

CANTORAS

Helena Bel

Cris Lemos

Margarete Makiolke

Rogéria Holtz

Edith de Camargo

Laís Mann

Direção geral: Rodrigo Browne

Direção musical: Sérgio Justen

Músicos:

Piano: Sérgio Justen

Baixo: Marcelo Pereira

Bateria: Valmir Pegas

Acordeão: Marina de Camargo

Roteiro e pesquisa: Etel Frota

Direção de audiovisual: Alan Raffo

Direção Cênica: Áldice Lopes

Coordenação Geral: Bárbara Magalhães

Captação de áudio: Beto Japa

Mixagem e masterização de áudio: Sérgio Justen

Assistente: Helena Sofia

Operadora de Câmera: Lídia Veta

O projeto: “Tributo à Stelinha Egg: A grande Cantora do Paraná” foi realizado com recursos do programa de apoio e incentivo à cultura – Fundação Cultural de Curitiba, da Prefeitura Municipal de Curitiba e do Ministério do Turismo.

Contrapartida social: todas as músicas e depoimentos de Stelinha Egg com tradução simultânea em libras pela intérprete Talita Sharon Simões

Áudios Stelinha: entrevistas realizadas com a cantora por Aramis Millarch. Acervo: www.millarch.org/