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por Nereide Michel em 28/03/2024

 29 de março de 2024 Curitiba completa 331 anos de presença no mapa geográfico do planeta Terra. Cidade que vive sob as bênçãos de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Sua história tem raízes fincadas em uma árvore altiva e soberana na sua paisagem – o nome da capital dos paranaenses traduz-se como “muito pinhão” ou “grande quantidade de pinhões”.  A palavra “kur yt yba vem do tupi-guarani. Uma inspiração para a sua padroeira que, conta a tradição, indicou onde deveria ser erguido o novo povoado. Sob a sombra dos pinheirais.

João Turin admirando a onça – sua obra. Divulgação

Com tantos significados e simbolismos envolvendo o pinheiro à história da cidade nada mais natural e espontâneo do que transformá-lo em ponto de referência quando da criação de um movimento que, em meados do século XX, capitaneado por pintores e escultores curitibanos, surgiu com o objetivo de expressar através da arte uma identidade cultural ao estado do Paraná. Um dos mais importantes nomes deste grupo  foi João Turin, cuja obra focada no conceito paranista ganhou relevância pela amplitude – escultura, pintura, arquitetura, arte gráfica, roupas e acessórios. Um acervo disponibilizado atualmente não apenas aos filhos da terra como a todos os que aqui aportam e se surpreendem pelo impacto – que emociona – dos trabalhos assinados pelo artista. 

Maringas Maciel

Um exemplo da enorme receptividade da obra de João Turin está documentado na grande afluência de público que visitou a monumental exposição, que este ano completa uma década – realizada no Museu Oscar Niemeyer, de 05 de abril de 2014 a 22 de fevereiro de 2015. Durante o período de oito meses que esteve em cartaz “João Turin: Vida, Obra, Arte” alcançou a marca de 266 mil pessoas, tornando-se a mais visitada na história do MON. Além de conquistar o público local, a exposição obteve reconhecimento internacional, assegurando seu lugar no ranking da revista britânica The Art Newspaper entre as mais visitadas do mundo em 2014. No Brasil, conquistou o Prêmio Paulo Mendes de Almeida, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) como a melhor exposição do ano. No mesmo evento de premiação promovido pela ABCA, arrebatou também o Prêmio Sérgio Milliet na categoria melhor livro de arte por “João Turin: Vida, Obra, Arte”, biografia escrita pelo jornalista, historiador, escritor e crítico de arte  José Roberto Teixeira Leite. A mostra esteve também no Rio de Janeiro e São Paulo, onde foi apresentada de forma condensada no Museu Nacional de Belas Artes (em 2015) e na  Pinacoteca de São Paulo (em 2016).

Conquistas que merecem ser comemoradas hoje e sempre. Eventos especiais devem acontecer no decorrer de 2024 para celebrar uma década de impacto artístico e cultural local mas com reflexos além das nossas fronteiras.

 EXPOSIÇÃO HISTÓRICA

Maringas Maciel

Considerada a maior mostra sobre João Turin já realizada, o evento resultou de um intenso trabalho de resgate de ponta a ponta de todo o trabalho deixado pelo artista, promovido pela Família Ferrari Lago, que adquiriu os direitos patrimoniais sobre a obra do paranista. Ela é responsável também pela gestão do seu legado, composto por 410 obras.

O trabalho de resgate foi acompanhado por José Roberto Teixeira Leite, que além de escrever a biografia de Turin, foi curador da exposição, montada no privilegiado espaço conhecido como “Olho” do Museu Oscar Niemeyer. A mostra incluiu não apenas  esculturas (arte pela qual o artista é mais conhecido), mas também pinturas, desenhos e até projetos de design em arquitetura e moda.

Maringas Maciel

Cerca de 130 obras em bronze foram apresentadas, sendo que grande parte ainda estava inédita até aquele momento. “João Turin não pôde fundir em bronze boa parte de suas esculturas, que permaneceram em gesso, guardadas há décadas por sua família”, afirma Samuel Ferrari Lago, um dos gestores da obra do artista. Durante o resgate de ponta a ponta, iniciado em 2013, foi montada uma fundição para realizar a produção de mais de 100 de seus trabalhos em bronze. Muitas delas foram vistas pela primeira vez na exposição no Museu Oscar Niemeyer.

Maringas Maciel

Entre as peças expostas, uma parte considerável trazia onças e outros animais –  Turin é reconhecido como o maior escultor animalista brasileiro –  como “Marumbi”, “Luar do Sertão”, “Tigre esmagando a cobra”, entre outras. Os visitantes também puderam admirar  “Frade Lendo”, escultura selecionada pelo governo brasileiro para presentear o Papa Francisco em sua visita ao Brasil em 2013. A mostra também contou com “Pietá” feita em 1917 na Igreja de Saint Martin, em Condé-sur-Noireau, na França, obra que milagrosamente sobreviveu ao bombardeio que arrasou a cidade na Segunda Guerra Mundial.