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por Nereide Michel em 06/07/2023

O poeta romano, Juvenal, que viveu entre os anos 60 e 128 d. C, em sua obra Sátiras, já fazia referência ao “mens sana in corpore sano.” E ninguém contesta que ele continua com a razão passados vinte séculos e duas décadas de caminhada da humanidade. É o equilíbrio entre mente e corpo que resulta em uma vida saudável. Onde e como mora essa dupla inseparável? Uma pergunta com várias respostas uma vez que dotado de inteligência, criatividade e espírito prático, o ser humano saiu das cavernas para habitar casas não apenas seguras e confortáveis mas que fossem a expressão do seu  jeito de ser, suas preferências e expectativas. Daí a versatilidade que abarca o conceito de moradia. Independente do estilo escolhido, de cores ou materiais de acabamento decididos pelos gosto pessoal, um ambiente deve refletir a tão desejada harmonia entre mente e corpo para que agrade não apenas aos olhos mas acolha, como um abraço, a todos os que adentre nele.

Um convite para percorrer os meandros de uma visão holística do habitar é oportunizado pela CasaCor, em cartaz em várias capitais brasileiras, e que lançou aos seus participantes  – arquitetos, designers, decoradores e paisagistas – o desafio de projetar ambientes sob o tema “Corpo & Morada. A ideia é destacar que “a morada vai além do local físico em que se habita, englobando também o próprio corpo e o planeta.”  A edição paranaense do evento, que está na 29ª edição, e sempre sob o comando de Marina Nessi, está de portas abertas – até o dia 23 de julho –  no Edifício Aqua. São 39 espaços, ocupando  6.500m² , que portam o manifesto em prol de “uma mente, um corpo e um planeta saudáveis”. 

MORADA DO CORPO

O que faz um corpo vibrar, sentir-se ativo e motivado a vencer desafios? Um ambiente no qual ele é estimulado pelo que vê e reage segundo a energia que emana de cores vibrantes e de um estilo decorativo com personalidade forte – como uma receita que mistura especiarias para provocar todos os sentidos.

Duas Fotografias

O Hall- Portas Abertas, de Daiane Moraes, recebe  a quem chega com um confortável sofá de formas orgânicas e um mix de materiais composto por cores, texturas e linhas retas – a essência do ser humano traduzida por um ambiente marcado pelo contraste entre expressões de força e acolhimento.

Duas Fotografias

O lounge Empresarial, do Studio Architetonika + Flavia Glanert, reflete na escolha dos móveis, peças decorativas, texturas e cores o dinamismo que move decisões, Uma sofisticada fusão do antigo com o novo complementa uma proposta geradora de uma explosão de sentimentos. Obras de arte e objetos com pegada artsy, utilizados em profusão no ambiente, provocam um arrebatamento visual que encontra eco também no emblemático mobiliário murano com DNA brasileiro, desenhado especialmente para o evento pelos profissionais que assinam o espaço. 

Aliás, móveis que são joias do design, entre eles a cadeira e o banco Wiggle, do arquiteto Frank Gehry, a colorida poltrona Binta, do suíço Philippe Bestenheider, e a mesa de centro Quebra Mar, criação exclusiva para o evento, estão entre os imãs que capturam de imediato a atenção de quem circula pelo espaço.

Duas Fotografias

Arranjos florais, igualmente impactantes, são renovados diariamente para conservar o frescor das plantas. Um jardim que capta o espírito exótico proposto no lounge do Studio Architetonika + Flavia Glanert

Bia Nauiack

Gustavo Scaramella assina o Manifesto Deca. Um convite a cuidar de si, do seu corpo e da sua morada. É sobre Bem-Estar e Bem Ficar. Ser autêntico e assumir sua personalidade é o primeiro passo para fazer parte desse movimento. É sobre ir além da busca pelo belo, questionar os padrões da beleza esperada e pasteurizada. Nada é convencional neste spa, o vermelho queimado predomina, a iluminação reproduz o efeito de “luz de velas” e as obras de arte em tom lúdico e questionador marcam presença.

Duas Fotografias

Cenário vibrante e energizante, onde há espaço para surpreender, experimentar e vivenciar novas ideias. Explorando o design para ver e viver, diversos materiais, acabamentos e soluções do universo Deca geram curiosidade e adesão ao proposto por Gustavo Scaramella. 

Duas Fotografias

Alimentação equilibrada e energia renovada, eis a indispensável fórmula para manter um corpo são e ativo. Mas uma sala de refeições pode e deve extrapolar apenas o seu objetivo principal e se transformar em ponto de encontro com a família e os amigos e cenário de momentos felizes e  descontraídos – que fazem bem ao físico e à mente. A Casa Cucina, espaço assinado por Karolina Venturi, traduz um olhar atual e sensível sobre o “coração do lar”. A ilha central, que auxilia na circulação do ambiente, é o ponto focal do layout do projeto – resultado de um trabalho que alia marchetaria ao mármore.  O estilo industrial tem na serralheria um grande aliado.

Duas Fotografias

E quem resiste à tentação de dar uma paradinha para um revigorante café em meio a uma agitada rotina? Melhor ainda quando acompanhada de uma das delícias incluídas no cardápio da casa. Com esta proposta Mariana Paula Souza assina o Café e Paneteria – um espaço com influência industrial, que mescla aconchego e modernidade.

MORADA DA ALMA

O repouso do corpo para liberar sonhos e desejos. A paz que deixa fluir a criatividade e a sensibilidade. Ambientes que abrem portas para a interioridade e deixam do lado de fora – em modo “espera” –  a vida palpável. Uma obrigatoriedade em meio ao cotidiano caótico superlotado de deveres e responsabilidades.

Bia Nauiack

Define-se a Suíte Morada, assinada pela Griff Arquitetura, de Roberta Lanza e Juliana Marques, como um espaço para diminuir o ritmo, relaxar, resgatar raízes e se conectar com o eu, indo ao oposto do que se vive nos dias atuais. Nele, tudo foi planejado para se buscar a desconexão, a aceitação e o relaxamento. Para as arquitetas, “a nossa casa é a nossa morada, nosso corpo fora de nós mesmos, o nosso lugar de descanso e, por isso, ela  deve nos conectar ao que realmente é importante e essencial em nossa vida.”

Bia-Nauiack

  A ambientação é inspirada no conceito japonês Wabi-Sabi, estética que valoriza a beleza da imperfeição, da impermanência e da incompletude. A partir da cultura zen-budista e da arquitetura naturalista, a dupla do escritório Griff Arquitetura busca resgatar a essência do existir. O resultado é um estilo  contemporâneo, aconchegante, natural, minimalista, porém, rústico, que tem no design moderno, com objetos recheados de história, um contraponto suave e delicado.

Duas Fotografias

A proposta do espaço Casa Japandi levou o seu autor, Giuliano Marchiorato, a optar pela fusão de influências japonesa e escandinava, baseadas nos conceitos Wabi-Sabi e Hygge. Na decoração japonesa, por exemplo, é possível observar móveis práticos, simples e minimalistas. O estilo escandinavo apresenta elementos orgânicos também em formas mais básicas e com poucos detalhes. Ambos se complementam com suas cores, materiais e naturalidade, resultando em um ambiente fresco, sereno e receptivo. 

MORADA DO REFÚGIO

Duas Fotografias

A chegada de um novo membro na família é um renovar de esperança em um futuro regido pela afetividade e espírito de fraternidade. Por isso, a Suíte do Bebê, de Camila Rocha, foi projetado como se fosse um refúgio para receber alguém muito especial. Um ambiente seguro e confortável que vai acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança desde o nascimento. A grande caixa vazada, com formas orgânicas, é o aconchegante espaço destinado à amamentação, um momento único de ligação amorosa entre mãe e filho.

Duas Fotografias

O banheiro integrado, que garante praticidade aos cuidados diários, recebeu um toque de modernidade e funcionalidade e contrasta com a temática imperante na suíte. Nele, Camila Rocha também pensou nas fases de crescimento da criança.

Duas Fotografias

O Lounge Oásis, da Mapogos Design, convida a mergulhar no deserto de pedras onde teremos um ponto de encontro de viajantes de todos os lugares e todas as culturas, mas com o mesmo propósito. Buscar um lugar de refúgio para o corpo e para a alma. Estabelecer conexões profundas com outras pessoas que estão aqui de passagem ou até mesmo com materiais que habitam esse mundo desde que ele existe. Não se  pode parar o tempo, mas aqui dentro ele não é importante, o que faz com que atue diferente. Afinal, agora nós estamos no controle das horas e dos dias.

Duas Fotografias

Nos revestimentos da bancada e nas originais banquetas o forte efeito causado pela escolha de materiais, como pedras, em estado bruto, ou placas marmorizadas.

MORADA DA ARTE

Existe fronteira entre o corpóreo e o espiritual? Sem dúvida, ela se dissipa quando o artista libera seu potencial criativo e expõe externamente as emoções dando formas à sua inspiração. É quando o escritor expressa sentimentos e registros da vida nas páginas de um livro e nos convida a viajar com os seus personagens.

Samuel Berger

O  Loft do Artista, de Adriana Marcassa Cotrin, segue o manifesto da CasaCor 2023, “espaços de legado que constroem o que somos e como vivemos”. O ambiente é  tematizado no artista visual André Baía, que explora o universo pictórico em suas obras e expõe ao mundo sua essência e personalidade. O projeto, pautado pela excentricidade, ganhou diversas cores, formas e texturas, assim como as telas expostas, que fogem de uma narrativa linear.

Duas Fotografias

 O espaço fluido causa uma experiência imersiva e sensorial no espectador, levando-o para uma atmosfera particular. O loft  terá até o final do evento uma nova obra – um grande painel pintado diariamente no local por André Baía. 

Duas Fotografias

A Galeria Verde, de Thiago Zoller, é um espaço que conduz a um reconectar-se com a natureza por meio da arte. Composta por musgo preservado, uma planta que cresce na região da Noruega e ao passar por um processo de preservação mantém as características de uma planta viva, sem necessidades vegetativas de luz e água. O visitante é convidado a contemplar e a sentir a arte de uma forma profunda e inspiradora, levando consigo um pouco da beleza da natureza ao seu cotidiano.

Duas Fotografias

Para Priscila Mileke, que projetou o espaço A Livraria, “nada melhor do que nos darmos ao luxo, de permanecer algum tempo em conexão com aquilo que nos faz bem, uma tarefa difícil em épocas de hiperconectividade, onde sem perceber deixamos para trás nossos momentos preferidos. Aproveitar nosso merecido descanso lendo e observando livros e fotografias inspiradoras, verdadeiras obras de arte que nos envolvem em um universo onde o verbo “ser” antecede o “ter”. Para criar a atmosfera apropriada à sua proposta, a arquiteta optou pelo aconchego de móveis orgânicos e prateleiras que deixam os livros acessíveis ao manuseio e à leitura.

MORADA DA MEMÓRIA

Há fórmula mais eficaz para deixar sempre presente o que  se viveu com alegria e emoção no passado? Pode ser de tempos recentes – como viagens ou celebrações – ou memórias de convivências familiares e amistosas. Objetos e imagens, guardados com carinho, às vezes, durante décadas, concretizam as lembranças e as tornam reais.

Duas Fotografias

O Estar do Colecionador, de Diego Miranda Leite e Zeh Pantarolli, reveste-se do conceito de museu para exibir peças únicas, exclusivas e históricas de diferentes partes do mundo. Com a intenção de conectá-las, a escolha do azul marinho remete ao oceano que banha os continentes, enquanto os móveis de madeira maciça e a marcenaria sob medida em laca oferecem um espaço perfeito para destacar a beleza dos objetos reunidos no ambiente.

Duas Fotografias

  Destaque para o sofá e o tapete moderno, além do revestimento marmorizado em azul, que dão um toque sofisticado e elegante ao projeto. Uma viagem, sem passaporte, proporcionada por Diego Miranda Leite e Zeh Pantarolli,

Duas Fotografias

Duas Fotografias

Flávia Bonet optou pelo conceito Smart Cozinha para o seu espaço, Estar Gourmet. Obras de arte e memorias afetivas contextualizam o projeto materializado através de áreas específicas como local para refeições, aperitivos e bate-papo com os amigos. Um living, com uma aconchegante lareira, recebe os convidados após o almoço, jantar ou coquetel.

Não por acaso, a arquiteta, ao lado dos lançamentos em móveis e revestimentos, inseriu no ambiente diversos objetos  e peças do acervo familiar – como a preciosidade de uma cadeira da casa da vovó. Como o objetivo da arquiteta é gerar momentos de confraternização, sem dúvida, desses encontros muitas memórias ficarão registradas.

Duas Fotografias

O duo Copa e Cristaleira, de Maristela Penkal e Julia Penkal, mãe e filha, é repleto de recordações familiares – tem até presente de casamento dos pais e avós. Para elas, o momento atual exige simbiose entre o morador e a sua casa. Não se trata mais de decorar um ambiente e sim de vesti-lo. Memórias afetivas preenchem os espaços. Materiais são extensões das preferências e vivências dos residentes.

Duas Fotografias

A inspiração para o projeto veio da comunhão que agrega familiares e amigos – expressado através de móveis de conceito moderno e formas orgânicas. O mobiliário de apoio composto pela cristaleira e adega complementam a atmosfera intimista e guardam “tesouros” do acervo das arquitetas.

MORADA DA PRATICIDADE

O dinamismo da vida atual, que exige soluções práticas, encontrou em uma forma contemporânea de moradia a estrutura perfeita para atender exigências do corpo e descansar (de preocupações) a mente. O loft – ocupando poucos metros quadrados concentra com funcionalidade todos os ambientes de uma casa. O estilo do proprietário, ressaltado no projeto do espaço, é o principal atrativo para que o lar seja um doce e agradável lar mesmo com poucos passos de distância, por exemplo, entre o quarto e a cozinha.

Duas Fotografias

O loft Origem, projetado pelo Studio Kaza Arquitetura e Sydor Arquitetura, não poderia ter outro nome de batismo. Impossível não associá-lo às primeiras moradas ocupadas pelos nossos ancestrais – cavernas abertas nas rochas. E são de pedra bruta as soluções mais impactantes do espaço, como o painel e o suporte para a pia do banheiro. O clássico mármore também é um bem-vindo complemento ao conjunto da obra. A ideia é trazer uma experiência que materialize as emoções humanas e concretize os sentimentos em relação às buscas recentes por significado e refúgio no morar.

Duas Fotografias

Utilizando  formas orgânicas, soltas e leves, que remetem à natureza e também ao corpo humano, o espaço oferece a sensação de liberdade e reencontro com as origens. Uma celebração aos sentidos estimulada por tons terrosos, madeira e vegetação, além de rochas.

Duas Fotografias

O Loft Refúgio, de Carla Grüdtner, integra sala, jantar, cozinha, quarto e banheiro em tons terrosos e neutros, que se harmonizam sem perder a funcionalidade.  O conceito de refúgio é materializado no uso de luz natural, que se espalha através de uma grande abertura de vidro no teto, tecidos, madeira, palhinha, tramas naturais e a valorização de elementos da  natureza. 

Duas Fotografias

O painel decorativo, que serve de anteparo entre a cama e o banheiro, é uma solução que organiza o espaço sem comprometer a sua circulação.

Samuel Berger

A proposta do Loft Cosmopolita, do arquiteto Marcelo Lopes, se inspira na visão de alguém que fez do mundo sua morada e carrega consigo sua origem, abrasileirando a vida e o lar. A setorização dos ambientes acontece por meio do elemento central, que assim como o corpo tem as extremidades arrematadas com curvas.

Samuel Berger

A composição de peças e obras de arte propõe uma combinação arrojada e contemporânea que reflete a personalidade de quem ali vive. Segundo o arquiteto, “o lar é uma íntima projeção de quem se é: sou plural, sou meu lar, meu lar sou eu.” A instalação “Sementes ao Vento”, de Marilene Ropelato, reflete esta proposta. Produzida e montada no local pela artista plástica, ela brinca com o jogo de luz e sombra e é composta por várias esculturas que, juntas, criam um efeito visual texturizado.

MORADA DA NATUREZA

A  natureza é a casa do nosso planeta e foi o primeiro lar dos seus habitantes. Daí a intimidade que deve ser preservada entre “uma mente em corpo são” e a preciosidade das funções vitais intrínsecas nos quatro elementos: terra, água, fogo e ar. De um relacionamento equilibrado e harmonioso entre eles e os humanos dependerá o futuro do endereço de todos os que aqui residem.

Duas Fotografias

The Landscape, paisagismo assinado por July Francesca Dallagrana, foi desenvolvido a partir do conceito de pluralidade, contemplando a visão intimista e coletiva do usuário. A primeira, apresenta foco no intimismo e conservacionismo, com intuito de proteção e interiorização. Já a segunda, apresenta dinamismo, desde uma área contemplativa até a união pluralista. Com foco nos elementos básicos e necessários da natureza, The Landscape apresenta uma expressão biofílica, aplicada direta e unicamente ao usuário. Ao fundo, obra de Rômulo Lass, para a CasaCor Paraná –  um mural de azulejaria em tons de laranja, inspirado nas curvas de Oscar Niemeyer.

A CASA FORA DE CASA

Costuma-se dizer que o carro é a segunda casa de um motorista. Mente e corpo agradecem quando vislumbram novas paisagens, descobrem novos cenários e não se estressam na circulação urbana. Daí o carinho que muitos moradores dedicam ao abrigo desse companheiro de jornadas. 

Duas Fotografias

O ambiente assinado por Felipe Guerra faz uma reflexão sobre a garagem contemporânea. Será que, nos dias de hoje, ela deve ser apenas um lugar para guardar o carro? O arquiteto acredita que não, que é preciso pensar nela como um  espaço multifuncional que inclua o lazer, o convívio e a permanência entre a sua destinação. O carro elétrico ganhou o protagonismo no projeto enquanto o mobiliário, quando fechado, revela a  tecnologia nele embutida, e aberto, destaca as suas múltiplas opções de uso. O preto é a aposta de cor, com todas as suas possibilidades de texturas e reflexos.

ONDE ESTÁ

CASACOR Paraná  29ª edição

Endereço: Rua Álvaro Alvim, 91, Seminário, Curitiba

Até 23 de julho

Horários de visitação: de terça a sábado, das 15h às 21h; domingos e feriados, das 13h às 19h.