Segundo algumas recentes análises de comportamento, tendências preconizadas para se concretizarem em dois ou três anos foram aceleradas e já fazem parte do cotidiano.  Consequência das mudanças na rotina que acompanham a recomendação do “fique em casa” para evitar a propagação no novo coronavírus.  O home office é o exemplo mais significativo de como uma atividade, em fase de teste em grandes empresas, tornou-se prioridade nos dias de hoje.

Mas será que os ambientes empresariais vão ficar vazios depois que a pandemia estiver sob controle permitindo a livre circulação pelas ruas da cidade? A resposta é negativa uma vez que a produtividade ainda depende muito de reuniões presenciais e da proximidade física entre os funcionários, as quais geram um clima favorável tanto para uma rápida tomada de decisões como para motivar o trabalho em equipe.

Desta maneira, o que já fazia parte da arquitetura corporativa –  espaços de descompressão, áreas de convívio, fóruns, valorização do uso de cores e  a biofilia – vai receber atenção redobrada quando a normalidade voltar a comandar as agendas de secretárias e recepcionistas. Esta é a avaliação da arquiteta curitibana Ana Cristina Avila que destaca que a conexão entre os funcionários com os objetivos de uma empresa é imprescindível para o sucesso de um empreendimento. A difícil fase atual deve ser encarada como oportunidade para transformação e evolução – notadamente nos locais de trabalho. Desta maneira, a valorização profissional e o bem-estar vão estreitar ainda mais os laços no ambiente empresarial no período pós-pandemia. Aqui estão algumas sugestões da arquiteta Ana Cristina Avila para adaptar escritórios a uma realidade moldada sob medidas drásticas adotadas para prevenir um comprometimento generalizado da saúde pública.

Um novo acesso

Acesso para o ambiente de trabalho vai contar com um  olhar atento para a higienização de segurança. Na recepção, devem estar disponíveis limpeza de calçados, medição da temperatura e totens com álcool em gel acionados por pedais ou automatizados, máscaras e luvas. Muitas empresas  têm investido em tecnologias para implantar aplicativos para bater o ponto ou leitores de QR Code para o controle de funcionários, além de  metais sanitários com sensores. Medidas para evitar o toque nos aparelhos e objetos da empresa.

Projeto: Ana Cristina Avila | Foto: Nenad Radovanovic

Maior flexibilidade e ventilação

Um novo layout do ambiente de trabalho vai ajudar a manter um distanciamento saudável entre os funcionários. Nele, devem ser levados em consideração eficiência e visual agradável. Biofilia, uso de cores e disposição dos móveis entram no projeto associados que estão ao bem-estar. Mesas próximas com proteções de acrílico podem ser eficazes contra o vírus, mas uma arquitetura bem planejada pode resultar em um espaço seguro e com menos barreiras físicas.

Atividades em home office, que já não são uma novidade, continuarão a ter importante participação quando a normalidade voltar às empresas, que passarão a ser um local de convívio dos funcionários por um tempo menor, mas, nem por isso, menos importantes uma vez que se transformarão em um polo de captação de conhecimentos, treinamentos e divisões de responsabilidades. Mesas individuais ganharão um novo design para receber um número maior de pessoas obedecendo-se naturalmente o distanciamento saudável entre elas.

 Vitare Interiores | Foto: HLW

Salas de reunião

As salas de reunião continuarão a ter um papel central no cotidiano das empresas, mas agora com uma preocupação maior com a ventilação natural e as medidas recomendadas para evitar uma possível propagação do coronavírus. A substituição de mesas por móveis que permitam o distanciamento ideal, como os de formato “U”, também está prevista. O uso da tecnologia para a realização de reuniões à distância com câmeras, internet de melhor qualidade e até mesmo opções holográficas serão investimentos bem-vindos.

We Work | Fotos: oleh The We Company

Reencontros

Com o aumento de funcionários permanecendo no sistema home office, os escritórios vão se tornar ambientes para planejamento de projetos, reuniões, metas de trabalho ou treinamento. Por isso, eles devem ser cada vez mais  aconchegantes e acolhedores para estimular o bem-estar da equipe e criar condições favoráveis para que vínculos afetivos com a empresa sejam mantidos, o que se refletirá no aumento da produtividade.

Laboratório de Inovação da Universidade de Recursos da China | AIM Architecture | Foto: Dirk Weiblen

Biofilia é o verde de verdade

A tendência de cores para 2020, definida na convenção do México em 2018 do Color Marketing Group,“Ver-de-Verdade”,  demonstra a importância da biofilia em ambientes de trabalho. Afinal, o ser humano tem uma atração inata pela natureza e esta é a definição de biofilia. O design biofílico tem a função de restabelecer a conexão e a interação do homem com o espaço natural. A energia que cada cor emana interfere na ação e reação das pessoas no ambiente de trabalho, por isso, como sugere a arquiteta Ana Cristina Avila, ” é importante  não usar na ambientação elementos que imitem o natural, mas, sim, o verde de verdade, como plantas e folhagens. Elas ajudam a reduzir os níveis de estresse e ansiedade, aumentam a concentração, além de atuar diretamente no humor de todos os funcionários.” Estudos mostram o grande aumento do percentual de produtividade, sendo 15% em bem-estar e perto de 7% na criatividade”, em um espaço projetado obedecendo a esta proposta.

Sede Bradesco Osasco – Projeto: It’s Informov

Investir  em ambientes confortáveis, arejados, com distanciamento saudável entre os funcionários, boa ventilação natural e trazer a natureza para dentro da empresa: dicas seguras para manter – ou ampliar – o sucesso de um empreendimento no pós-pandemia.