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por Nereide Michel em 17/12/2019

Duas marcas curitibanas, Reptília –  da designer  Heloísa Strobel  – e Rocio Canvas – do designer Diego Malicheski – mostraram na passarela da 46ª edição da Casa de Criadores – que aconteceu em São Paulo de 26 a 30 de novembro – como será o seu Inverno 2020. A moda autoral que sai dos ateliers da cidade ganha um destaque especial ao apresentar, em um dos eventos mais longevos de lançamentos para a temporada, um trabalho pautado na criatividade e inovação. E, é claro, com um de toque de ousadia, que faz a diferença em uma passarela compartilhada com talentos de outros estados.

ÁGUAS PROFUNDAS

Heloísa Strobel mergulhou em águas profundas para emergir uma coleção inspirada nas criaturas que habitam regiões abissais e irradiam luz própria para compensar as trevas ao seu redor. Para expressar esta temática – também imersa em posicionamento filosófico – a Reptília apresentou na passarela um jogo de volumes, tons de branco e preto com inserção de pigmentos químicos que brilham no escuro. Segundo define a designer, cada peça desfilada carrega costuras especiais, inserções e detalhes que fazem dela uma obra por si só. 

Marcelo Soubhia/Fotosite

Marcelo Soubhia/Fotosite

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O ponto de partida para o desenvolvimento da coleção surgiu da pesquisa por novos materiais e incansáveis testes no atelier da Reptília. Aliás, a experimentação com têxteis e texturas está no perfil criativo de Heloisa Strobel – ela gosta de se desafiar buscando opções de uso para os mais diversos tecidos. Seda e malha continuam sendo suas paixões primeiras mas para a temporada Inverno 2020 ela abriu espaço também para o jeans e suas múltiplas apresentações, como a sarja e o canvas. Já as tramas do algodão cru inspiraram as construções das peças e ao se aliarem às sarjas resinadas agregaram o toque tecnológico recorrente nos trabalhos da designer. 

Marcelo Soubhia/Fotosite

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Pigmentos auto luminescentes inserem nas transições entre pretos e brancos, luzes e sombras, a identidade de seres de luz, inspiração mater da coleção. “Hoje são algumas pessoas, que emitem luz e combatem as trevas de pensamentos e velhos costumes, que irão guiar nosso futuro. Esses são os nossos seres bioluminescentes, e eu quis trazer isso para a passarela. Eles me inspiram muito”,  define Heloísa Strobel. Desde o seu surgimento em 2014 a Reptília alinha a produção com preocupações ambientais e sociais, promovendo um modelo mais sustentável de negócio. Comprometimento que lhe valeu o prêmio ODS do Sesi, com a chancela da ONU, em 2018.

Marcelo Soubhia/;Fotosite

A Reptília recebeu o apoio das tecelagens brasileiras Lunelli e Vicunha Têxtil e também o apoio inédito da Lupo. Os calçados são uma parceria entre a Opium.cc + Baderna.

VOLTA AO NINHO

Com as facilidades oferecidas pela Internet cada vez mais ficam concentradas no recesso do lar atividades que anteriormente eram exercidas fora de casa. O privado se torna oásis na era da hiperexposição provocada por estas mesmas comunicações online. Constatações que serviram de foco para  Diego Malicheski desenvolver as suas Narrativas Cotidianas, que compõem a RC07  – o designer sempre enumera as suas coleções em vez de batizá-las com as suas inspirações.

Marcelo Soubhia/Fotosite

Refletindo sobre o retorno “para dentro”, e tudo o que ele representa do ponto de vista comportamental e estético, o designer optou por seguir pelo caminho das belezas não- óbvias. Nelas insere objetos, cores, texturas, formas e sentimentos do seu dia a dia e da casa onde habita – partes de sua ambientação e arquitetura, itens que formam manchas gráficas, sombras, coisas conceituais e estranhas ao senso comum são transmutadas para as suas peças. A intenção é evidente: a mulher que veste Rocio Canvas, que “era do mundo, universal”, agora se produz para “ir a lugar nenhum”. Daí o conforto virar mote da coleção. Um conforto que pode causar estranheza. A atmosfera elegante decadente criada como pano de fundo é um artifício para mostrar que se arrumada e confortável em casa ela está pronta para sair porta afora.

Marcelo Soubhia/Fotosite

No laboratório criativo da Rocio Canvas, que rompe com os códigos de vestir, a roupa para ficar em casa é um look conceitual e a de ir à padaria um vestido longo para a noite. Modelagens descoladas do corpo, formas exageradas e detalhes esculturais interagem com texturas aveludadas inspiradas em tapeçarias macias.

Marcelo Soubhia/Fotosite

Marcelo Soubhia/Fotosite

Marcelo Soubhia/Fotosite

Marcelo Soubhia/Fotosite

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Os vestidos volumosos têm um ar extravagante quando usados em casa, combinados com sapatos suntuosos e lenços de pescoço. O tricot com pegada vintage é um item-chave porque é a tradução da palavra conforto. A transparência com recortes e camadas fazem o contraponto contemporâneo de resgate da feminilidade. A alfaiataria oversized reforça a proposta da roupa multiuso, de estar arrumada para todas as ocasiões. Os acessórios têm assinatura RC e exploram curvas, arcos e argolas. A coleção contou com o apoio da TexPrima.